Desenvolver um projeto com a sustentabilidade em mente nos fará questionar o modelo atual das nossas escolhas, pois não somente teremos beleza e custo como critérios, mas também os impactos positivos e negativos que poderemos causar na nossa sociedade, na nossa qualidade de vida e dos demais ecossistemas.
Existem inúmeras estratégias sustentáveis difundidas no mercado, mas é preciso observar e analisar algumas com maior profundidade. Aqui, apresentamos algumas dicas para melhorar ainda mais seu projeto.
Uma das características mais estimuladas na escolha de materiais sustentáveis é escolher produtos com conteúdo reciclado. Mas é preciso observar três coisas importantes:
É pertinente?
Possuir conteúdo reciclado é pertinente àquele produto? Nem todo produto pode ter conteúdo reciclado ou pode possuir altos teores de conteúdo reciclado, por causa da qualidade e segurança do produto. Existem normas que determinam as porcentagens de escória para cada tipo de cimento, por exemplo. E ainda não é recomendado tubulações de água e fiação elétrica com conteúdo reciclado.
É tóxico?
Nem todo resíduo precisa ou pode ser incorporado em um novo produto. Em ambientes internos, por exemplo, alguns elementos podem ser tóxicos, como pisos fabricados com resíduo de pneu.
É reciclável?
Por fim, nem todo produto com conteúdo reciclado é reciclável. O conceito de nutriente técnico e biológico pode ajudar na escolha. Um nutriente técnico é um insumo que poderá ser reciclado quimicamente ou mecanicamente em uma fábrica como, por exemplo, metais, plásticos e vidros. Um nutriente biológico poderá ser restaurado pela compostagem ou pode ser biodegradável, como algodão e madeira (sem tratamento). Produtos que misturam nutrientes técnicos e biológicos, como tecidos com PET e algodão, telhas de papel reciclado com betume e placas de compósitos de papel, plástico e alumínio, inviabilizam a reciclagem, necessitando uma tecnologia de reciclagem e logística reversa especiais e muitas vezes, inviável.
Fenol Formaldeído: Além de tintas e selantes a base d´água, exija dos fornecedores de compósitos (MDF, OSB) a substituição da cola uréia-formaldeído pela cola a base de fenol -formaldeído.
Qualidade do ar interno: Prefira produtos que apresentem um certificado de qualidade do ar interno, como o Greenguard. Apesar de existirem poucos produtos no Brasil com este certificado, peça ao fabricante, incentivando assim que busquem desenvolver produtos mais saudáveis e com respectiva comprovação. Esse certificado garante que alguns químicos aplicados no produto atendam a níveis seguros e podem ser encontrados em pisos, forros e revestimentos.
Amianto (asbestos): banido em muitos países e considerado cancerígeno pelo EPEA (Agência Ambiental Americana)), infelizmente o amianto não é proibido em todos os estados brasileiros. Por características como incombustibilidade, bom isolamento térmico, elétrico e acústico, este mineral é aplicado em diversos produtos no nosso dia a dia, como: argamassa, tinta, pisos, revestimentos e cola; cabos e fitas de isolamento térmico; isolamentos térmicos e acústicos; telhas e caixas d’água. Pesquise com o fabricante e sempre que houver a opção livre de amianto, dê preferencia. Ainda, a maior contaminação pode ocorrer na fase de demolição. Existem empresas especializadas em identificar materiais com amianto na edificação e realizar a demolição e retirada com segurança, além de descartarem corretamente esse resíduo.
A biofilia, termo que significa “amor pela natureza”, define como preferimos estar próximos a elementos naturais ou elementos que remetam a natureza. Estratégias de uso do verde em paredes e coberturas verdes estão cada vez mais comuns. Mas são necessários alguns cuidados:
Especifique espécies nativas regionais e nunca use espécies invasoras: as plantas nativas terão menor manutenção e menor consumo de água, além de promoverem a biodiversidade local. Atualmente, 80% das espécies vegetais usadas no paisagismo são estrangeiras. Espécies invasoras são aquelas que se alastram pelo solo e vento e se proliferam, tomando o lugar de espécies nativas. As espécies invasoras são a segunda maior causa da perda de biodiversidade no mundo. Também evite cactáceas e suculentas (fotossíntese CAM), pois estas plantas não contribuem adequadamente com a melhoria do nosso microclima por serem de regiões desérticas. Consomem pouca água, mas em compensação não realizam serviços ambientais eficientes, ou seja, apresentam baixa evapotranspiração, que é importante para umidificar o ar e atrair a fauna local.
Escolha de espécies adequadas ao local: avalie primeiramente a luz do ambiente para especificar plantas de sombra, meia-sombra ou sol.
Escolha um local viável para instalar um jardim interno ou parede verde: alguns locais são inviáveis para instalação de jardins e paredes verdes. O ambiente precisa receber alguma iluminação natural. Espaços sem acesso a aberturas poderão até receber plantas, mas será necessária a instalação de iluminação especial, que produza pouco calor e forneça luz nos comprimentos de onda que são mais utilizadas no processo de clorofila da planta. Ainda, isso poderá não ser suficiente para a sobrevivência e beleza da vegetação.
Alguns produtos possuem muitas vantagens ambientais, como baixo teor de toxicidade, alto teor de conteúdo reciclado ou reciclabilidade. Mas é preciso primeiramente checar questões como: atendimento da norma técnica específica (quando existente) e questões de segurança, como resistência ao fogo, principalmente para forro e sistemas de atenuação acústica e térmica.
Houve um tempo em que a única opção de lâmpada eficiente era a fluorescente, mas nem sempre a estética ou a cor fria agradou a todos. Hoje, as opções com LED, por exemplo, estão mais acessíveis e existem diferentes modelos – até aqueles que lembram a extinta incandescente – para iluminar a casa com economia, cores aconchegantes e estilo.
Na hora de especificar, reflita sobre o ciclo de vida do produto (de onde veio? possui durabilidade? para onde vai no final de sua vida útil ?). Não é preciso analisar documentos complexos nem relatórios, mas tenha a curiosidade de solicitar ao fornecedor essas informações, assim como aquelas que definirão a qualidade e a segurança do produto, primordiais para a escolha de qualquer material, principalmente quando consideramos sua sustentabilidade.
*Texto escrito pela professora do curso “Materiais: quais informações solicitar e informar para o mercado de Greenbuilding”, Alessandra Caiado, Arquiteta e Urbanista, mestre em Tecnologia da Arquitetura pela FAU-USP e Coordenadora da área de Materiais Sustentáveis no CTE – Centro de Tecnologia de Edificações.