Projetado para transmitir o sentimento de acolhimento e reflexão para quem está passando pelos rituais de despedida de seus entes queridos, o Crematório Campo Grande em Mato Grosso do Sul foi concebido, desde sua obra, para gerar uma egrégora de harmonia, cuidado com o próximo e com o nosso planeta.
Viver em equilíbrio com o meio ambiente é um assunto tão sério que há inclusive certificações para quem atende a essas medidas. Uma das mais importantes internacionalmente é o LEED, sigla em inglês para Leadership in Energy and Environmental Design; em português Liderança em Energia e Design Ambiental.
Para receber essa certificação, os projetos são analisados em quesitos como sustentabilidade, eficiência do uso da água e energia, uso de materiais e recursos, qualidade ambiental, dentre outros. O nível da certificação é definido conforme a quantidade de pontos adquiridos, podendo variar de 40 a 110 pontos. O Crematório Campo Grande recebeu a mais alta delas, sendo condecorada com a certificação LEED Platinum, o que o torna o único crematório sustentável no mundo.
Desde o início, o projeto do Crematório Campo Grande teve esse objetivo: de ser um local de acolhimento e conforto no difícil momento do luto. Executar este projeto com foco na sustentabilidade foi um caminho natural para o cuidado com aqueles que precisam seguir a vida. O projeto concebido pela arquiteta Alessandra Ribeiro concilia o uso de tecnologias e materiais de alta qualidade e prioriza o uso racional de energia, das águas e dos demais recursos naturais, por meio de soluções autossustentáveis. Até mesmo no tratamento da obra em si houve cuidado. Para se ter uma ideia, 92% dos resíduos resultantes do período da construção foram reciclados e reutilizados.
Outro aspecto importante é que a concepção do projeto de arquitetura, amplo, moderno e inovador, permitiu a escolha de materiais básicos em sua execução. Dessa maneira, foram utilizadas menores quantidades de recursos naturais. Outro ponto que merece destaque é seu projeto hidráulico. O objetivo, segundo o engenheiro Emerson Tulux, era reutilizar a água da chuva, para irrigação do paisagismo, da jardinagem, para limpeza e outros usos do dia a dia. Para isso, foi construído abaixo dos Columbários e Ossuários um reservatório de água subterrâneo, com a capacidade para armazenar 365 mil litros de água da chuva, o que reduziu em 87% o consumo do local.
No projeto elétrico houve também a preocupação na cogeração de energia, com a instalação de 64 placas, que convertem a luz solar em energia elétrica. Com essa medida, o Crematório Campo Grande tornou-se 57% autossuficiente. Sua produção mensal é de 2.300 kW por hora. Para se ter uma ideia, uma casa com 4 moradores gasta em média 152,2 kW por hora. Além disso, a escolha do sistema de iluminação foi pensada cuidadosamente, com utilização de luminárias e lâmpadas que consomem menos energia, automação dos sistemas e o uso da iluminação natural em grande parte do empreendimento. Com essas e outras medidas tomadas, o projeto do Crematório Campo Grande, diminuiu inclusive suas emissões de carbono. Hoje são menos 24.436,51 lb de CO2 liberados na atmosfera, o que equivale a 331,12 árvores plantadas em menos de um ano de funcionamento do empreendimento.
Falando em natureza, sua integração ao projeto é visível. Em seus 5000 m2 de extensão, o que não falta é área verde. O paisagismo e a jardinagem associados ao concreto moderno dão ao empreendimento um grande valor sustentável. “Espero que o Crematório Campo Grande seja um símbolo para as pessoas, que inspire outros empreendimentos e que eles atentem para o fato de que além de trazer o embelezamento e a harmonia, um projeto deve ter preocupação com a natureza e, ainda, trazer arte para o dia a dia das cidades”, pontua Alessandra Ribeiro.
Ricciano Liberalli, da consultoria Petinelli, responsável pela certificação LEED do Crematório Campo Grande, destaca que o equilíbrio presente no projeto foi fundamental para a conquista do título. “O resultado final chama bastante a atenção. É um ambiente extremamente acolhedor e, ao mesmo tempo, é muito bem desenvolvido quanto à arquitetura, às soluções de paisagismo e às soluções estéticas. Além disso, consegue seguir os requisitos para obter uma certificação Platinum”, pontua.
Para Felipe Faria, CEO da Green Building Council – GBC Brasil, organização responsável pelo selo LEED no país, vale destacar que essa conquista do Crematório Campo Grande é extremamente importante, uma vez que a categoria Platinum é o mais alto nível da certificação LEED no mundo. Hoje, apenas 3% dos empreendimentos certificados chegam a esse nível. Segundo Faria, existem cerca de 50 mil projetos com certificado LEED em cerca de 120 países, dos quais aproximadamente 33 mil estão nos EUA. Isso coloca o Brasil em papel de destaque internacional, tendo o único crematório reconhecidamente sustentável no mundo. Ele afirma ainda que esse caráter exclusivo torna a certificação ainda mais especial, sobretudo por tratar-se de um empreendimento fora do eixo Rio-São Paulo e dos grandes centros. “Vale destacar o protagonismo do Crematório Campo Grande, pois essa certificação o torna uma referência absoluta”, explica.