O conceito de “economia circular” faz parte de muitas conversas nas construções sustentáveis em todo o mundo, além de estar incluído no próprio sistema de certificação LEED. Como esse princípio é definido e como podemos avançar em seus objetivos?
De certa forma, a economia circular é uma nova maneira de olhar para velhos problemas. A ideia é liberar todo o valor dos materiais ao invés de desperdiçá-los. Para isto, precisamos de soluções de negócios inovadoras, juntamente com uma política progressiva que permita novos modelos econômicos – conceitos como projetar para circularidade, estabelecer modelos de negócios reais de devolução de produtos que funcionem, alugar em vez de possuir materiais, apoiar reformas, re-manufatura e inovar em questão de logística reversa (recuperação dos materiais usados).
Todos esses conceitos precisam de novas ideias, novas soluções e, mais importante, colaboração. A economia circular é o veículo mais poderoso para reunir todas essas partes interessadas para resolver esses problemas. É por isso que o ambiente construído precisa se envolver.
Estamos em uma economia predominantemente linear: pegue, faça, descarte. Isso é o que acontece com os edifícios. Construímos principalmente com materiais virgens que não são muito duráveis. Quando terminamos um edifício, o derrubamos e reciclamos de 30 a 50% dos materiais, para então construímos algo novo.
Um ambiente construído circular deve ser muito diferente. Há menos materiais virgens, e a maior parte do que compõe os novos edifícios vem de materiais reutilizados, recuperados, de base biológica ou reciclados. Além disso, nossos edifícios duram mais, são usados com mais intensidade (por mais pessoas, usando mais serviços) e são projetados para serem reformados e atualizados, em vez de demolidos. Finalmente, quando os edifícios estão perto do fim de sua vida útil, nós recuperamos e reutilizamos tudo, de modo que os resíduos se tornem apenas um pequeno subproduto do processo.
O LEED v4.1 aborda muitas dessas intervenções de economia circular, desde promover a reutilização de edifícios até projetar espaços para flexibilidade, além de incentivar o reuso e a reciclagem. Temos pontos para todas essas estratégias. Também apoiamos a mudança de materiais baseados em combustíveis fósseis para materiais de base biológica colhidos de forma sustentável, um componente-chave para se afastar de uma economia linear baseada em combustíveis fósseis. Também devemos lembrar que a mudança para materiais de base biológica deve incluir, no mínimo, práticas sustentáveis de produção e colheita, e deve levar a ecossistemas regenerados.
Um estudo de caso para esses princípios é o crédito piloto de Produtos Circulares no LEED v4.1. Este crédito aborda áreas emergentes da economia circular para produtos de construção. Esses novos conceitos incluem:
O maior desafio é que os modelos econômicos atuais não recompensam uma economia circular e, muitas vezes, é mais difícil e caro ser circular. Se uma empresa quer fazer o bem, pode custar mais, ou é penalizada por fazer investimentos que reduzam a poluição ou melhorem a circularidade. Por exemplo, o custo para recuperar plásticos normalmente é muito maior do que o custo de novos plásticos. Como resultado, pode ser difícil para os fabricantes enfrentarem esse problema sozinhos. A solução é trabalhar em conjunto, com parceiros da indústria e do governo, para encontrar soluções que recompensem as melhores práticas e reflitam os custos econômicos e ambientais totais da não recuperação desses materiais.
Assim como no LEED, no entanto, mostramos que a sustentabilidade e a circularidade não precisam ser mais caras, especialmente quando o projeto é integrado e planejado com antecedência.
A reutilização é a melhor solução para a circularidade, e deve se tornar de alta prioridade. No LEED, estamos focando cada vez mais na circularidade, adicionando créditos piloto e dando mais peso aos créditos de reutilização, bem como acoplando a questão de carbono incorporado aos novos projeto.
Nosso principal papel neste espaço é garantir que a circularidade não se torne apenas mais um atributo dos produtos. Devemos pensar de forma holística e olhar para a forma como as coisas são feitas, usadas, reutilizadas e descartadas. Cada uma dessas etapas tem impactos no meio ambiente e em todas as pessoas.
A economia circular tem muito potencial, mas alguns são críticos porque a veem como greenwashing. Precisamos garantir que as coisas sejam “seguras e circulares” e que as soluções circulares reduzam as emissões de gases de efeito estufa. É imperativo que façamos o que sempre fizemos e pensamos em todos os sistemas, nos aspectos holísticos de produtos, materiais e edifícios.