Uma casa sustentável, construída num lugar onde a sustentabilidade não é prioridade, está mostrando que a certificação é, para além de todas as vantagens, um excelente negócio. A Residência Mariscal foi construída em Sinop, no Mato Grosso, cidade símbolo do agronegócio brasileiro. A casa nasceu de um desafio e para comprovar se uma casa sustentável teria um maior valor de revenda. Bingo! Construída por todos os parâmetros da certificação, recebeu a nota máxima do Green Building Brasil, Platinum. Colocada à venda, teve uma procura impressionante e foi vendida em 15 dias, por um valor considerado alto para a região. E ainda gerou para sua construtora, a Ecohaus, uma corrida de empresários e consumidores em busca de novas casas certificadas. Quem conta tudo isso é Marlon Leão, arquiteto e professor da Universidade do Estado de Mato Grosso, e sua mulher Úrsula, engenheira civil e responsável por acompanhar a certificação.
O desafio, conta o professor, era fazer uma obra (de arte, enfatiza) sustentável fora do eixo Rio-São Paulo, numa região do Brasil conhecida pela resistência à preservação ambiental. “Queríamos fazer uma vitrine para a sustentabilidade, uma referência para arquitetos e estudantes. Conseguimos a maior pontuação do GBC”, afirma orgulhoso. Curitibano que há muitos anos se estabeleceu em Mato Grosso, Leão se considera mais professor que arquiteto. “Fiz este projeto pela certificação”, diz. Muito a ver com seus 5 anos na Alemanha, onde fez o doutorado em Sustentabilidade e Eficiência Energética.
Pois se o projeto começou como um desafio terminou com um sucesso estrondoso. Aliás, não terminou. A casa já está virando tese de mestrado na faculdade. Fora o interesse de consumidores e construtores. “Perceberam que a certificação vendeu muito bem e vieram buscar mais”, conta Bárbara. “A liquidez da casa foi impressionante. O período médio de venda de uma casa nova aqui é de 6 meses, esta após a certificação teve 3 ofertas e foi vendida em 15 dias, por um valor excelente para a região, para alegria dos investidores”, ela relata.
Para chegar a este resultado, Leão e a Ecohaus focaram nos benefícios da certificação. “Buscamos na obra 1) a sustentabilidade; 2) eficiência hídrica e elétrica e 3) o conforto”, conta. No 1 focaram nos 3R: reduzir, reutilizar e reciclar, conseguindo 96% de desvio de aterro, quase resíduo zero. No 2 o alvo foi gastar o mínimo na operação (na página 12 contamos os detalhes). E no 3, conforto, são itens e mais itens. Ele destaca um: “As pessoas se impressionam com a acústica; uma filarmônica poderia se apresentar nela”, brinca. “A certificação garante isso”. Tudo, diz, por um custo adicional quase zero.
“Provamos que é possível fazer uma obra certificada mesmo aqui no interiorzão do Brasil”, diz Úrsula. O resultado final causa orgulho ao casal e eles vão destacando mais ganhos da obra, como a qualificação dos trabalhadores. “A certificação ensinou muito os operários. Eles se orgulhavam da limpeza do canteiro. Não usamos sacos de cimento, que é de difícil reciclagem, mas argamassa usinada, a granel. A gente não pode esquecer que a indústria da construção é a que mais polui o planeta”, diz o professor. Úrsula afirma que agora tentará só fazer uma obra certificada. Está tocando duas neste momento.
Leão, que fez o trabalho pro-bono, garante: “Minha satisfação é mostrar o valor de uma obra certificada”. Valor que, como ele e Úrsula provaram, chega também ao bolso de quem investe. E também ao bolso do comprador, que gastará muito menos com a operação e na manutenção da casa.
O artigo apresentado é parte do relatório GBC em Ação: Residencial, que pode ser acessado gratuitamente abaixo.