O conceito de “Net-zero Energy” começa a avançar gradativamente no Brasil e diversos são os fatores que o impulsionam: conscientização sobre mudanças climáticas, surgimento de investimentos focados em Green Buildings, desenvolvimento das certificações ambientais, entre outras. Mas antes de tudo, é preciso entender o que são construções “net-zero energy” e como são definidas.
Muitas fontes descrevem que uma edificação net-zero em energia é aquela em que o balanço energético anual (energia produzida x energia consumida) é igual ou inferior à zero. Entretanto, essa definição deixa de lado diversos aspectos que precisam de maior esclarecimento.
O primeiro deles é o entendimento do que é energia. Energia na construção compreende todos os recursos necessários para que aquela edificação opere, ou seja, energia elétrica, gás e outros tipos de fonte de energia menos usuais no Brasil, como combustíveis fósseis (diesel, por exemplo), biomassa, etc. Sendo assim, quando se fala de balanço energético, não somente eletricidade deve ser levada em conta, e sim todas as fontes de energia do projeto.
Outro importante aspecto é a diferenciação das definições de energia local e energia primária. Energia local (do inglês, “site energy”) é toda aquela entregue no lote que será necessária para o funcionamento dos equipamentos instalados no projeto. Em outras palavras, é a energia do medidor de luz somada às outras fontes paralelas, como gás também medido no terreno. Já energia primária (do inglês, “source energy”) engloba a cadeia de geração e distribuição da energia e inclui também suas perdas. Para se calcular a energia primária total é necessário multiplicar a energia local pelo fator de energia primária ou adicionar as perdas de transformação da rede. Para fins de balanço energético, ambas são calculadas em kWh/m² por ano.
A partir de 2012, nações da União Europeia desenvolveram planos para promover a eficiência energética das edificações e, consequentemente, reduzir as emissões de carbono operacional do setor. Nesse momento surgiam os nZEBs (“nearly-zero energy buildings”), construções altamente eficientes em energia, com a combinação de soluções passivas para redução da demanda energética e geração de energia renovável no lote. A Diretiva Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD) da União Europeia determina que todas as novas construções a partir de 2021 sejam “nearly-zero”, ou quase zero. Com aumento das exigências no setor, esse conceito foi evoluído para os atualmente conhecidos NZEBs (“net-zero energy buildings”). Enquanto na Europa o conceito de net-zero energy é aplicado à energia primária total, ou seja, considerando a demanda energética da construção e as perdas e eficiência dos sistemas da rede, outras localidades e normas apresentam diferentes conceitos.
A certificação LEED Net Zero do USGBC, por exemplo, obriga o projeto a compensar o total de energia local e primária através de energia renovável produzida no terreno ou na compra de energia renovável da rede ou de créditos carbono. Já no selo GBC Net-zero, desenvolvido no Brasil, é contemplado no balanço anual somente a energia no “site”. Sendo assim, é importante entender as diferentes formas de abordagem do conceito de construções “net-zero energy”, principalmente quando se objetiva a obtenção de uma certificação.
Além disso, deve-se considerar também os fatores econômicos. Uma edificação net-zero em energia gera importantes economias dos custos de operação. Entretanto, se não pensada junto a uma redução da demanda energética através de um projeto eficiente, a meta de uma construção “net-zero energy” pode impactar fortemente no capital investido e reduzir o potencial de retorno desse investimento.
Seja qual for o conceito aplicado, o importante é comunicá-lo com clareza e sempre economizar energia.
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Por Sustentech