Como arquiteto, iniciei minha carreira trabalhando em empresas de projeto e construção civil, uma jornada bastante comum para aqueles recém-formados na profissão. A preocupação com estética e funcionalidade, incansavelmente apresentadas e debatidas durante o tempo de faculdade, seguem intocáveis na minha concepção até os dias de hoje. Porém, com alguns anos de formado, já comecei a me deparar com situações que geravam um grande incômodo – a principal delas, o impacto gerado pelo setor da construção civil.
Ao parar para observar o que projetamos e executamos, comecei a entender o porquê do ser humano ser o grande responsável pelo desequilíbrio ambiental do mundo moderno. Estruturas gigantescas como barragens, pontes, túneis e prédios que realmente quase arranham o céu, dos quais só entendemos o real impacto quando presenciamos de perto a sua execução. As centenas de toneladas de concreto chegando ao canteiro de obra, os incontáveis tijolos cerâmicos e blocos sobre pallets espalhados pela obra, as fôrmas de madeira empilhadas nas caçambas de entulho e outros diversos resíduos gerados aos milhares. O incômodo era tão grande que decidi mudar minha trajetória profissional e hoje trabalho para tentar conscientizar meus colegas de profissão sobre a responsabilidade que nós, arquitetos, temos com o planeta.
Abro um parênteses aqui, pois sempre fui e continuo sendo totalmente a favor do constante desenvolvimento da nossa sociedade. Obras de infraestrutura e novas edificações sempre serão necessárias para atender a crescente população global e suas demandas, mas será que precisamos continuar projetando e construindo da mesma forma?
Já temos hoje no mercado, inúmeras possibilidades para projetar reduzindo, dentro do possível, o impacto da construção. Sistemas construtivos pré-fabricados, materiais com conteúdo reciclado ou de baixo impacto, fornecedores regionais, soluções de engenharia para reduzir volume de concreto ou outros materiais, entre muitas outras. Já é possível utilizarmos ferramentas, como a Avaliação do Ciclo de Vida, para dimensionar este impacto e entender se aquilo que estamos concebendo realmente é a melhor solução.
Nós temos o lápis e o papel na mão! Nós, temos o dever de entender e conhecer exatamente o que estamos projetando. Quando desenhamos uma parede, sabemos exatamente as camadas e espessuras que à compõe? Quando você faz a especificação de materiais de um projeto, você conhece os impactos destes?
Acredito que a resposta geral seja “não”, e tudo bem. Não precisamos abraçar tudo e, por isso, precisamos contar com especialistas que possam nos ajudar. O que precisamos entender é que somos sim os principais responsáveis pela especificação dos materiais que serão incorporados àquela edificação e devemos assumir as consequências deste papel.
“Seja a mudança que você quer ver no mundo”, Gandhi disse. Sugiro que comece pela mudança na forma de projetar!
Bruno Schnellrath, arquiteto, consultor de sustentabilidade e gerente da Sustentech