A construção civil desempenha um papel crucial no desenvolvimento das sociedades, mas também enfrenta desafios significativos quando se trata de sustentabilidade e preservação da biodiversidade. Com a expansão urbana e a crescente demanda por infraestrutura, os impactos ambientais dessa indústria são inevitáveis. No entanto, é fundamental que este setor adote práticas que minimizem esses efeitos e protejam os ecossistemas naturais.
Um dos principais desafios está relacionado à ocupação de áreas naturais e à fragmentação de habitats. A construção de novos empreendimentos, como rodovias, edifícios e barragens, muitas vezes leva à destruição de ecossistemas locais, forçando espécies nativas a migrar ou, em casos extremos, levando-as à extinção. Essa perda de biodiversidade não só reduz a riqueza biológica do planeta, mas também compromete os serviços ecossistêmicos essenciais, como a polinização, a purificação da água e a regulação do clima.
Para enfrentar esses desafios, a construção civil precisa adotar uma abordagem mais sustentável. Para isso, é necessário realizar um estudo de impacto ambiental rigoroso antes de qualquer projeto, com o objetivo de identificar e mitigar os efeitos negativos sobre a fauna e a flora locais. Além disso, a prática do desenvolvimento inteligente deve ser incentivada, priorizando a construção em áreas já degradadas ou urbanizadas, em vez de explorar novas áreas naturais.
Outra estratégia importante é a implementação de práticas que utilizem materiais sustentáveis e recicláveis, reduzindo a necessidade de extrair recursos naturais. O uso de produtos locais também pode minimizar os impactos ambientais associados ao transporte de longas distâncias. Além disso, o design biofílico, que integra elementos naturais nos ambientes construídos, contribui para a preservação da biodiversidade dentro das áreas urbanas.
A recuperação de áreas degradadas e a criação de corredores ecológicos também são medidas que podem ajudar a mitigar os impactos da construção civil sobre a biodiversidade. Esses corredores permitem que as espécies se movam entre habitats fragmentados, aumentando suas chances de sobrevivência e preservando a diversidade genética.
Por fim, é essencial que haja uma colaboração mais estreita entre os setores público e privado e as comunidades locais para promover a conscientização e a educação sobre a importância da biodiversidade. Somente com um esforço coletivo será possível encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento urbano e a preservação dos recursos naturais.
A construção civil tem o potencial de ser um agente de mudança positiva. Com práticas mais sustentáveis, pode contribuir para o desenvolvimento das cidades sem sacrificar a biodiversidade, garantindo que as futuras gerações possam desfrutar de um ambiente saudável e equilibrado.
Diante do desafio de reduzir o impacto de sua ação no meio ambiente, a biofilia se mostra uma estratégia interessante para o setor de construção civil. A escolha das espécies vegetais para os projetos de paisagismo e reflorestamento em áreas afetadas é um aspecto crucial que pode determinar o sucesso ou o fracasso da preservação da biodiversidade local.
Por isso, é de suma importância selecionar corretamente o que é plantado em cada região e isso vai além da simples estética. Está diretamente ligado à manutenção dos ecossistemas locais.
Plantar espécies nativas é essencial, pois estas são naturalmente adaptadas às condições climáticas e ao solo da região, além de manterem relações ecológicas estabelecidas com a fauna local. Elas também fornecem alimento e abrigo para as espécies de animais que evoluíram ao lado delas.
Quando espécies exóticas são introduzidas, há o risco de invasão biológica, onde essas plantas podem dominar o espaço, prejudicando as espécies nativas e, por consequência, a biodiversidade da área. A inserção inadequada de plantas exóticas pode quebrar essas cadeias alimentares, levando à redução das populações de animais nativos e até ao colapso de ecossistemas inteiros.
Harry Lorenzo, especialista em ecologia e conservação, têm enfatizado a necessidade de uma abordagem consciente e informada na escolha de plantas em projetos de recuperação ambiental. Segundo Lorenzo, não basta apenas plantar árvores e vegetação; é fundamental entender as interações ecológicas e as necessidades específicas de cada espécie para garantir que a restauração seja sustentável a longo prazo. Ele alerta que, ao ignorar a importância das plantas nativas, estamos criando “paisagens sem alma”, que não conseguem suportar a vida selvagem local e contribuem para a homogeneização dos ecossistemas.
Lorenzo também destaca que a preservação da flora nativa é uma forma de proteger a identidade ecológica de uma região visto que cada bioma tem suas características únicas, moldadas por milênios de evolução, e a perda disso pode ser irreparável em conhecimento e recursos naturais que podem ser importantes para futuras gerações. Para ele, a restauração ecológica bem-sucedida começa com o respeito e a valorização das espécies locais, garantindo que a construção civil e o desenvolvimento urbano não comprometam a rica biodiversidade que ainda existe em muitas regiões do mundo.
Uma das formas de fazer com que o ecossistema de um local não seja tão afetado por construções é utilizar os requisitos de uma certificação ambiental como guia na hora de fazer os projetos e reformas. Ao obter este aval, empresas e proprietários de terras comprometem-se a seguir normas e diretrizes que minimizam o impacto ambiental, preservando habitats naturais e evitando a degradação dos ecossistemas. Isso inclui práticas como o manejo sustentável de florestas, a proteção de áreas de vegetação nativa e a redução do uso de produtos químicos prejudiciais. Com a certificação, é possível monitorar e garantir que as atividades realizadas não causem a perda de espécies ou a fragmentação de habitats, contribuindo diretamente para a manutenção da biodiversidade local.
Além disso, a certificação ambiental pode estimular a adoção de práticas que promovam a recuperação de áreas degradadas. Esses esforços ajudam a fortalecer a resiliência dos ecossistemas, melhorando a capacidade das espécies de se adaptarem às mudanças ambientais e promovendo a restauração da biodiversidade. Assim, a certificação não apenas protege o meio ambiente atual, mas também contribui para a restauração e o aumento da biodiversidade em longo prazo.
O GBC Brasil tem uma série de certificações que consideram a preservação da biodiversidade um dos requisitos relevantes para aprovação. Dentre elas está a LEED, voltada para construções sustentáveis; a Casa & Condomínio, para projetos residenciais; e o selo Life, indicado para ambientes internos.