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Sustentabilidade – Case da Certificação LEED de uma Edificação Pública

Publicado em 27 . 06 . 2017

Em sinergia com o local de implantação e os conceitos de sustentabilidade e economicidade, a futura nova sede da Delegacia da Receita Federal em Santarém/PA é mais uma das poucas edificações públicas do país a buscarem a Certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). A avaliação da etapa de projeto (Design Review), pela organização americana Green Business Certification Institute (GBCI), já foi concluída. Resta apenas a etapa da construção do edifício para a sua avaliação final (Construction Review) e assim ser obtido o selo da certificação.
O projeto da nova sede, com cerca de 4.000 m² de área construída, busca a certificação na categoria de “Novas Construções” (NC – New Construction). Apenas nesta etapa de avaliação do projeto já foram alcançados 39 pontos, restando poucos esforços para a etapa da obra a fim de obter a Certificação LEED mínima, chamada Certified, que corresponde a obtenção de 40 pontos.
Para alcançar este desafio, os critérios de sustentabilidade foram inseridos no conceito do projeto desde a sua concepção, a partir de uma equipe multidisciplinar de profissionais projetistas coordenados por especialistas em construções sustentáveis, o que possibilitou o desenvolvimento de um projeto integrado e sustentável desde o início.
 
O PROJETO
Inserido em terreno de 15.000 m², adjacente ao Parque Urbano da cidade, o projeto assumiu como prioridade respeitar o entorno próximo e as características naturais do terreno, a fim de causar o menor impacto ambiental possível e adequá-lo aos condicionantes locais. Assim, a implantação ocorreu de forma concentrada, em local desprovido de árvores, limitando a movimentação de terra em apenas 48% do terreno.
Um aglomerado de árvores na área central se configurou como elemento fundamental na disposição do partido arquitetônico. O edifício principal foi proposto em dois blocos integrados dispostos ao redor dessa vegetação, formando uma praça central com tratamento paisagístico para convivência dos usuários e reverência da vegetação preservada.
O projeto buscou expressão formal e espacial sóbria e imponente, para representar com simplicidade e oferecer fácil reconhecimento da instituição no contexto urbano. Neste sentido, foi proposta uma grande empena cega, voltada para a via principal, onde se integra à fachada desenho abstrato da marca da Receita Federal em alto-relevo, incorporando à arquitetura elemento de identidade da instituição.
O projeto arquitetônico se opôs ao padrão de edificações envidraçadas ao trazer soluções mais adequadas ao clima local. As aberturas foram concebidas sombreadas com dispositivos de proteção solar, sempre planejados por meio de estudos de carta solar. Ademais, a fachada principal conta com um jardim vertical. Este elemento, além de auxiliar na proteção da radiação solar e, por conseguinte, no arrefecimento da temperatura interna, compõe uma representação simbólica da correlação com o Parque da Cidade, demonstrando o respeito ao local de inserção e a preocupação ambiental da instituição.
Sobre a cobertura do bloco de dois pavimentos foi previsto um terraço para fruição ao ar livre, com desenho paisagístico em argila expandida e seixo rolado inspirado em grafismos da cerâmica tapajônica. Além de trazer benefícios energéticos, esta iniciativa visa promover uma importante cultura e expressão da região, homenageando os primeiros povos que a habitavam, os índios Tapajós.
 
TERRENO SUSTENTÁVEL
Bastante atenção foi dada à permeabilidade do solo. Além dos 62% de área verde, foi prevista bacia de detenção para amortização do pico de escoamento das chuvas, com o intuito de minimizar o impacto causado pelo aumento de vazão na rede de drenagem urbana. Complementando esta medida, o terreno conta com pavimentações externas do tipo drenantes para favorecer ainda mais a infiltração de água no solo.
O projeto também dispõe de bicicletários e vagas preferenciais para veículos de baixa emissão.
 
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Segundo o resultado da simulação energética computacional, o projeto proporciona uma redução do consumo energético de 22% em relação ao baseline estabelecido pela norma ASHRAE 90.1.
Para alcançar este resultado, foram adotadas estratégias como sistema de fachada ventilada com isolamento térmico, brises de proteção solar, jardim vertical, vidros com baixo fator solar e revestimentos de cores claras, com baixa condutividade térmica.
Quanto ao sistema de climatização, foi prevista uma central de água gelada (CAG) de alta performace, com condensação a ar, de 180 TR de capacidade térmica.
O sistema de iluminação dispõe de luminárias com tecnologia LED, dimerizáveis, gerenciadas e operadas através de automação DALI, o que permite um maior controle do sistema e melhor aproveitamento da luz natural. Destaca-se também a aplicação de domos prismáticos nas coberturas para iluminação natural em corredores de circulação, reduzindo ainda mais o consumo de iluminação artificial.
 
QUALIDADE AMBIENTAL INTERNA
Para fornecer aos ocupantes uma boa qualidade ambiental interna, foi explorada uma conexão com o exterior por meio de iluminação natural e vistas, garantidas em 95% dos ambientes de permanência prolongada.
Visando assegurar uma melhor renovação do ar nos ambientes internos, aplicou-se um aumento de 30% nas taxas mínimas de vazão de ar externo recomendadas pela ASHRAE 62.1, atendendo tanto à certificação LEED como aos normativos nacionais.
Todos os sistemas foram projetados para garantir o conforto térmico nos ambientes por meio de análise do índice de conforto proposto por Fanger, o Predicted Mean Vote (PMV), mantido sempre entre -0,5 e 0,5, conforme a ABNT NBR 16.401.
 
USO RACIONAL DA ÁGUA
Uma das estratégias adotadas foi o emprego de equipamentos que apresentam vazões inferiores aos padrões de mercado, como torneiras automáticas de pressão, arejadores e válvulas de descarga de duplo acionamento. Estes equipamentos resultaram em uma previsão de economia de 38% no consumo de água potável.
Uma vez que a região é provida de elevada precipitação, foi projetado sistema de aproveitamento de águas pluviais para uso em bacias sanitárias, mictórios e irrigação de jardins. Este sistema conta com reservatórios capazes de suprir 100% da demanda de água para fins não potáveis, mesmo no período de estiagem.
No paisagismo, adotaram-se espécies adaptadas ao clima local que necessitam de baixa demanda de irrigação. Além do uso de 100% de água não potável, foi previsto sistema de irrigação eficiente, com tecnologia do tipo gotejamento.
 


 
Texto escrito por:
Isabella Dias Botelho, Arquiteta e Urbanista na Fox Engenharia e Consultoria, empresa membro do GBC Brasil.

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