Mobilidade urbana é uma expressão que designa os meios utilizados pela população para se deslocar dentro do espaço urbano assim como a sua forma, considerando a organização da área, o fluxo de pessoas e mercadorias e os meios de transportes utilizados. É um dos principais desafios de gestão das cidades na atualidade.
A ideia da mobilidade urbana é tornar o movimento dos cidadãos nos espaços urbanos fluido e prático. Automóveis e transportes coletivos como ônibus, trem e metrô fazem parte das soluções de mobilidade, facilitando o deslocamento e visando deixar a vida das pessoas mais fácil. O assunto é alvo de longos debates e críticas devido à opção pelo transporte motorizado individual, que os especialistas chamam de “paradigma do automóvel”, um conceito que influenciou diretamente o traçado das cidades que surgiram nas décadas de 50 e 60.
Um exemplo mais flagrante no Brasil é a cidade de Brasília, cujo deslocamento foi inteiramente pensado para ser feito em automóvel. A questão é que cada vez mais os centros urbanos perdem a capacidade de permitir que as pessoas se movam com qualidade. Hoje já se sabe que privilegiar o transporte motorizado individual foi um equívoco. A frota brasileira de automóveis cresceu 400% em dez anos, conforme dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em pesquisa realizada em 2016. Já o desenvolvimento de transportes alternativos e coletivos, como o metrô de superfície, não apresentou o mesmo índice de aumento no mesmo período. Engarrafamentos e poluição do meio ambiente são comuns nas principais cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Salvador, que sofrem com o colapso do sistema atual, apesar de alguns atos visando a desobstrução do trânsito, sem muito efeito prático, como rodízios de veículos e corredores de ônibus.
“Em minha opinião, todas as cidades que temos hoje em nosso mundo são mal planejadas. Os cidadãos urbanos crescem ameaçados de morte permanentemente, e não posso acreditar que isso seja normal. ” Disse Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá em entrevista à revista FGV Projetos – número 24 – 2015.
Um dos fatores que levam à sofrível mobilidade é a ausência de planejamento e a gestão desacertada de projetos arquitetônicos e urbanísticos que configuram o espaço público. Não raro, este traçado é mal conceituado, o que leva a grandes dificuldades para a mobilidade urbana. Uma verdadeira reação em cadeia com graves consequências. Municípios tornaram-se blocos de cimento sobre vias asfaltadas, sem preocupação com a organização e a agilidade. Isto sem mencionarmos a questão da acessibilidade urbana. Faz-se urgente uma maior reflexão sobre como construir uma infraestrutura capaz de dar fluidez ao deslocamento de pessoas com dificuldade de locomoção pelas mais várias limitações físicas.
Se sobra tempo no engarrafamento, falta para coisas banais, mas que dão sentido à vida, como buscar o filho na escola, jogar vôlei com os amigos na praia, curtir um jantar com a família e outras atividades de lazer. Discussões sucessivas em torno do tema obrigam a que se pense em novas alternativas. Isso inclui aspectos econômicos, sociais, políticos e ambientais. Para atingir esses objetivos, o poder público precisa se comprometer oferecendo à população um plano de mobilidade urbana que trace providências e visualize um local, no futuro, com muito mais qualidade de vida: a chamada mobilidade urbana sustentável. O que seria traduzido em um conjunto de diretrizes pensadas para melhorar o deslocamento das pessoas em uma cidade com foco em resultados positivos na qualidade de vida.
Certos recursos no campo da tecnologia já auxiliam o público nessa questão. Os aplicativos que sinalizam o melhor trajeto de um ponto a outro, de acordo com o horário e o meio de locomoção desejado, já são uma realidade. No entanto, estamos longe de uma situação considerada ideal. O planejamento é fundamental, tanto para novas áreas a serem urbanizadas quanto para solucionar os problemas de desenvolvimento urbano nas metrópoles. Não se pode mais, nos dias de hoje, planejar um empreendimento comercial ou residencial sem que esteja em sintonia com a configuração de seu ambiente. É muito importante que, de alguma forma, se consiga trazer soluções que favoreçam a mobilidade urbana e acessibilidade, independente de imposições legais.
Leandro Miranda, engenheiro da Supera Engenharia, responsável pela construção do Centro Corporativo Portinari (LEED Platinum) em Brasília, afirma: “A própria localização deve ser pensada para facilitar o acesso por meio de transportes públicos e bicicleta, além de procurar estar perto de bancos, farmácias, comércio e restaurantes”. Leandro acredita que o planejamento de um empreendimento deve contemplar a realidade já instalada no espaço e no entorno de sua localização e buscar se integrar sem causar obstáculos e transtornos e, ainda, procurar facilitar o deslocamento e os acessos a locais vizinhos.
A Bloomberg New Energy Finance, uma das mais conceituadas consultorias do mercado de energia, indica que, até 2040, 54% das novas vendas mundiais e 33% de toda a frota de carros será elétrica. Novos empreendimentos com tal visão estariam na vanguarda e seriam bem vistos perante a opinião pública preocupada com o futuro das gerações. Edifícios “mistos” estão ganhando cada vez mais espaço nas grandes cidades. Com unidades residenciais e comerciais, eles são pensados como forma de melhorar a mobilidade urbana. Por meio deles, é possível fazer com que muitas pessoas não percam horas a fio no trânsito se deslocando, seja para trabalhar ou para ter acesso à prestação dos mais diversos tipos de
serviços. Bicicletários já são considerados indispensáveis em empreendimentos. O incentivo a formas alternativas de locomoção é imperativo.
Há também um outro modo de contribuição em que empreendimentos comerciais podem contribuir para a mobilidade urbana: a gestão de imóveis comerciais. Franco Morais, gerente de Facilities da Iris Imóveis Corporativos, atuando no Centro Empresarial CNC (LEED Gold) em Brasília, afirma: “Tenho convicção de que o ambiente de trabalho pode, sim, interferir positivamente na qualidade de vida e que edifícios comerciais bem geridos são ferramentas importantes no auxílio ao deslocamento dos indivíduos”. Para Franco, uma boa equipe gestora presente no dia a dia, tanto do empreendimento quanto da empresa ocupante, pode encontrar alternativas que favoreçam a mobilidade de seus usuários. Conduções comunitárias, horários diferenciados, prestação de serviços no próprio local são ações que poupam as pessoas de saírem sem necessidade do seu local de trabalho.
Um exemplo desta integração entre a gerenciadora do condomínio e os condôminos pode ser visto no Centro Empresarial CNC onde o condomínio disponibiliza vans para transporte dos ocupantes do prédio no trajeto condomínio x rodoviária/estação central do metrô. “Esta facilidade permite que os condôminos que moram próximo das estações de metrô ou que venham para o centro de Brasília de ônibus, tenham conforto em se deslocar aproximadamente 2km, que é a distância da estação central até o Centro Empresarial CNC. Isto acaba fomentando o uso do transporte coletivo uma vez que o usuário tem a garantia de chegar com segurança e tranquilidade até o seu local de trabalho”, ressalta Franco.
Parte do conjunto de soluções para obter um espaço público mais acessível são calçadas confortáveis e niveladas, sem buracos ou obstáculos, ruas com marcações para deficientes visuais, corrimão e outras alternativas que permitam o deslocamento seguro e estável. A evolução para uma cidade mais inteligente, mais integrada, mais inovadora pressupõe uma proposição holística e estruturada do espaço urbano e a integração efetiva dos vários atores e setores. É necessário, neste sentido, ir além dos investimentos em inovação tecnológica e inovar também na gestão, no planejamento, no modelo de governança e no desenvolvimento de políticas públicas.
A forma que uma empresa tem de ver a cidade em que vive, o local em que trabalha e o empreendimento que planeja mudará a forma como essa empresa será vista e a cidade será grata.
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