No fim da década de 60 questionava o Movimento Moderno no Brasil que vinha perdendo conteúdo e se tornava mais um estilo.
No Brasil pelas péssimas administrações e especialmente pela ação do BNH( Banco Nacional da Habitação) que marcava toda a construção brasileira com uma postura retrógrada e preocupada apenas em quentidade e não com a quantidade, induzindo toda a produção arquitetônica a um nível primário e no setor da construção a utilizar mão de obra barata e sem qualificação o que influenciou até hoje os baixos níveis de arquitetura e construção civil, sem planejamento, sem urbanismo, sem tecnología novas, sem invenção, de má qualidade construtiva e estética duvidosa. Vinha a se alinhar a esse universo urbano descontrolado, resultante do lucro imediato fomentado pela ganância especulativa de empresas imobiliárias, a profusão de estilos retrógrados do neoclássico, do neo-colonial e dos “neo-nada”aprofundado pelas soluções superficiais pós-modernas, resultando um atrazo de meio século no desenvolvimento da arquitetura e da construção brasileira. E o pior que, quase a totalidade dos arquitetos brasileiros pelo primário nível cultural adquirido se limitou atender essa arquitetura especulativa e alguns poucos a fazer esculturas em grande escala, difundindo muldialmente soluções formais que ficaram como marca do modernismo brasileiro. Sem nenhum conhecimento científico, resultando em obras de baixo conteúdo conceitual, pequena durabilidade, com sérios problemas de conservação e manutenção, e nos últimos 15 anos a importação de modelo das caixas de vidro do “international stiling”com toda a sorte de problemas para a arquitetura de um país tropical, de clima quente e insustentáveis ao meio ambiente. O resultado que poucos arquitetos brasileiros tem consciência disso e são vozes isoladas. A reprodução desse modelo é marcante nas principais capitais brasileiras.
Tentando fugir a todo esse universo, decidi a partir de 1968 de lutar contra a ausência de conceitos científicos e me direcionou mesmo com a precariedade da época, a novas soluções com tecnologías mais industrializadas, com rígido controle construtivo e com preocupação constante com o meio ambiente com soluções bioclimáticas e eco-eficientes. Foi então que pioneiramente no Brasil iniciei o uso de estrutura metálica e também com estruturas de madeira compostas de sarrafos de madeira de descarte, algumas vezes com soluções mistas desses materiais, ou ainda, trabalhando com concreto pré-moldado com controle tecnológico desde a sua fabricação.
Como arquiteto lutar para atenuar a posição consumista que a especulação imobiliária impõe, procurando atender o anseio de cidadania com soluções inovadoras, criando projetos que atendam espacial e construtivamente as necessidades e as aspirações dos usuários. Assim vale destacar alguns pontos fundamentais dessa trajetória com textos, teses, eventos, palestras e projetos e obras nestes 45 anos, verdadeiros marcos de pesquisa e inovação: uma série de obras com estrutura de madeira com o reaproveitamento de sarrafos de pinho colados, constituindo pilares e vigas de dimensões estruturais significativas, documentadas no livro “ Siegbert Zanettini “Arquitetura Razão Sensibilidade”. Os projetos citados abaixo e outros que completariam essa longa descrição são exemplos executados com soluções arquitetônicas e sistemas construtivos que possuam a controle de qualidade nos elementos produzidos industrialmente usando tecnologia limpa e principalmente segura.
Alguns exemplos de destaque:
Escrevi um texto no Caderno Brasileiro de Arquitetura nº8, publicação de 1981 especial sobre parte de meus textos e obras:
“Esta casa é um caso à parte, nela se juntou:
As reminiscências da infância – Do velho casarão da fazenda em Americana me pressionava: a telha vã, o fogão a lenha, as trancas nas portas, o piso de tijolo, as portas altas com travessas sobrepostas, as paredes de tijolo assentadas com barro, a varanda.
As condições do lugar – a paisagem exuberante, de mata secundária bastante densa junto à única clareira, jabuticabeiras, amoreiras, pitangueiras, goiabeiras, abacateiros, bananeiras, primaveras, a pequena horta, o riacho, remanescentes do antigo sítio. Paisagismo praticamente pronto, ocasionado uma saudável inversão: a parte edificada normalmente determinante é comportada e obediente à paisagem onde ela se implanta.
Muitos pássaros e muito silencio só rompido pela queda d’água de uma pequena cachoeira construída pelo represamento do riacho.
Mão de obra local rude, só se comprometendo com soluções simples e com técnica ao seu alcance.
O conhecimento de meu pai. O excelente marceneiro que me ajudou a construir e se encarregou da execução de toda a parte de madeira interna e externa à casa. A sua marca e sua personalidade estão presentes em cada detalhe e cada recanto.
Nela se negou:
Qualquer aprisionamento por muros e grades.
Qualquer solução complicada espacial ou construtivamente.
A sofisticação e o supérfluo no detalhe ou no equipamento.
A colocação de uma vegetação artificial.
Funções fixas e preconcebidas.
Nela se acrescentou:
A experiência anterior do arquiteto.
O respeito profundo pela paisagem.
A retomada da rua interna, evolução antiga da galeria de circulação da primeira casa própria construída.
A racionalidade do setor hidráulico.
O controle da curva necessária.
A modelagem do terreno circundante e somente aquele descoberto de vegetação.
A ligação sem nenhuma hesitação com a exuberância verde circundante; em qualquer ponto da casa se depara com a natureza.
A simplificação de cada detalhe, e a negação de qualquer sofisticação aleatória.
O rompimento cada vez maior das funções estratificadas – circulação, lazer, serviço intimo. Em toda casa se circula e se anda descalço. Em toda a casa se come e se trabalha numa descontração total.
A indivisibilidade entre a casa e paisagem circundante. A unidade é o todo paisagem-casa que se respeitam e convivem sem agressões, comedidamente, com humildade, um completando o outro. Não é um jardim artificial que emoldura, retoca e maquila. Mora-se dentro e fora.
As condições do tempo e as horas se revezam e determinam o dormir, o comer, o descansar e o trabalhar. Às vezes, as coisas se invertem: a natureza abriga e a casa exterioriza. Curte-se, medita-se, descansa-se sem imposições. A casa é a continuidade tranqüila e madura da paisagem.
Uma rua acompanha em nível a encosta do terreno e se inicia, de um lado, num bosque e, do outro, numa praça circular. A casa é a parte coberta desta rua para onde se voltam todos os espaços da mesma. Para a sua implantação, foi feito corte na inclinação da encosta, cujo arrimo foi resolvido com arcos de tijolos que sustentam a terra da parte posterior e abrem espaços para a colocação de toda a bateria hidráulica da casa. A varanda, ao longo de toda a frente ao norte da casa, é o resultado dos balanços das vigas de madeira, composta de pinho, que se apóiam diretamente sobre paredes do bloco intermediário que a separa da rua interna e, na parte superior, sobre extremidade dos arcos.”
Hospital e Maternidade São Luiz – Unidade Anália Franco, primeira versão em estrutura metálica e por solicitação do grupo executivo da obra, teve a estrutura substituída por concreto em 2004, finalizado em 2007 e vencedor do Prêmio Destaque Saúde Projeto Predial no V Grande Prêmio de Arquitetura Corporativa ;
Partindo das questões ambientais como itens estruturais da arquitetura, o edifício integra princípios de sustentabilidade na forma e função dos espaços projetados, onde há presença constante de áreas verdes, iluminação e ventilação corretas, além de sistemas operacionais flexíveis que permitem fácil operação e manutenção. Um conjunto que assegura a renovação do ecossistema natural, permite fáceis ampliações futuras da estrutura em aço e minimiza os impactos resultantes da intervenção urbana na paisagem.
O Hospital Mater Dei – Belo Horizonte, projeto em 2010-2011 início da obra em 2012 e preparado para maio de 2014. Trata-se do primeiro hospital de porte, inteiramente industrializado e com estrutura metálica. Foi recentemente agraciado com o X Grande Prêmio de Arquitetura Corporativa neste ano de 2013.
A idéia de uma “Escola Parque” com praças cobertas e arborizadas para áreas de aprendizagem e de conhecimentos inovadores e sustentáveis foi um dos pilares do projeto. Os eixos principais de circulação foram integrados a essas praças e também ao playground. Toda área esportiva se articula com as outras áreas de circulação, facilitando o escoamento e as rotas de saída.
A nova unidade da empresa alemã B. Braun, em expansão no Brasil, será construída o parque fabril contará com Centro Logístico, que terá um armazém para produtos acabados e um depósito de materiais inflamáveis, na primeira fase. Em seguida será construída uma fábrica de dispositivos médicos e, por último, o Centro Administrativo.
Leia também a Parte 1/3 : “A evolução da construção sustentável – Principais referências” clicando aqui
Leia também a Parte 3/3 : “Perspectivas para o futuro” clicando aqui