Extrair, usar e descartar. Por décadas, esta tem sido a abordagem padrão de produção e consumo. As empresas fazem a extração de matérias-primas e as transformam em produtos, que são comprados pelos consumidores, que por sua vez os descartam, gerando desperdício. Mas, à medida que os avisos sobre a mudança climática e a degradação ambiental se tornam cada vez mais frequentes, as pessoas estão começando a desafiar a sustentabilidade desse modelo. Muitos líderes empresariais e governos – incluindo a China, o Japão e o Reino Unido – argumentam que devemos abandonar esse sistema linear em favor de uma chamada economia circular de fazer, usar, reutilizar e reutilizar de novo e de novo.
Mas o que há de errado com a economia linear?
Muitas vezes leva a um sistema que é ineficiente, dispendioso e esgota os recursos naturais. As commodities de mineração, do ouro ao carvão, podem estragar os ecossistemas e afetar comunidades próximas. A produção de aço a partir do minério requer uma grande quantidade de energia, que produz dióxido de carbono que aquece a Terra. Um subproduto do modelo linear é o desperdício de material, que ocupa espaço e pode incluir contaminantes. Lixo acaba em lugares indesejáveis. O chamado Great Pacific Garbage Patch é o exemplo mais conhecido de poluição de plástico em escala global. No entanto, produtos como aço e plástico podem ser reutilizados, recondicionados e reciclados para capturar valor inexplorado. Uma economia totalmente circular – sem desperdício e sem novos materiais – é provavelmente impossível de conseguir, mas mantendo o máximo destes materiais dentro do ciclo poderia reduzir o uso de novos recursos.
Isto não seria reciclagem? Qual a diferença?
As duas ideias estão conectadas, mas não são as mesmas. A frase “economia circular” aparece no trabalho de alguns economistas de recursos que remontam pelo menos aos anos 80. Seu uso nos últimos anos veio conotar uma abordagem que é mais sistêmica e ambiciosa do que a reciclagem. Por exemplo, para manter a qualidade, os fabricantes de garrafas de plástico precisam misturar plástico reciclado com material virgem. Em vez disso, uma economia verdadeiramente circular não envolveria novos insumos materiais, reduzindo emissões, desperdício e, eventualmente, custos. Algumas indústrias já estão chegando perto disso – quase todos os carros podem ser recuperados, por exemplo. Mas alguns têm muito a percorrer – 97% dos materiais usados para confeccionar roupas são novos, e 73% desses produtos são incinerados ou colocados em um aterro sanitário. Esta não é uma ideia totalmente nova – o slogan “fazer e reparar” foi popularizado durante a Segunda Guerra Mundial para encorajar o mínimo de desperdício possível.
Existem céticos?
Sim. Tornar um ciclo de produção totalmente auto-suficiente é virtualmente impossível. Alguma entrada nova será sempre necessária, e algum desperdício será sempre criado. Reciclar papel repetidamente, por exemplo, produz papel de qualidade cada vez menor. Além disso, a construção de uma economia circular pode acarretar altos custos iniciais, exigindo investimento para redesenhar produtos e mudar para materiais reciclados. O Reino Unido estima que o custo de mudar para uma economia circular seja de cerca de 3% de seu PIB. A despesa pode alimentar a preocupação de que as empresas optarão por soluções rápidas, em vez de práticas sustentáveis de prazo mais longo.
O que é viável?
Uma cadeia de suprimentos mais circular. Isso pode significar a mudança para materiais reciclados, estendendo o ciclo de vida de um produto e melhorando a recuperação no final de sua vida útil. A TerraCycle Inc., sediada em New Jersey, lançou a iniciativa “Loop”, uma colaboração com grandes nomes, como a Nestlé, para fornecer produtos comuns – sorvete, por exemplo – em embalagens que podem ser devolvidas e recarregadas. Há um esforço multinacional da General Motors, BMW e Toyota para criar um mercado de reposição para baterias usadas de carros elétricos, que podem ser usadas para esfriar a cerveja nas lojas de conveniência 7-Eleven no Japão ou para a bancos de energia solar em Camarões. E a startup de Nova York, Rent the Runway Inc., oferece roupas de grife para eventos como casamentos e festas de gala, permitindo que os clientes evitem compras de roupas descartáveis, enquanto obtêm uma avaliação de US $ 1 bilhão para a empresa.
O que os governos estão fazendo?
Eles estão tentando levar os consumidores e produtores a avançar em direção a uma economia mais circular. O governo alemão oferece subsídios para projetar produtos que tenham um impacto ambiental menor ou que sejam baratos de reparar. No Chile, o governo disse que terá como objetivo tornar todos os plásticos reutilizáveis. E o governo da Índia introduziu uma lei em 2012 exigindo que os fabricantes de eletrônicos e produtos da linha branca forneçam serviços de “devolução” quando um produto chega ao fim de sua vida – uma medida poderia gerar cerca de meio milhão de empregos.
—
por Emma Vickers, originalmente publicado pela Bloomberg