A primeira de uma série de análises de sistemas de classificação de construções sustentáveis que busca relacionar os impactos da saúde humana na última versão do LEED.
Partindo de um foco intenso no consumo de energia e recursos, a conversa sobre a sustentabilidade no setor da construção civil está se ampliando para um diálogo que envolve ativamente impactos na saúde individual. Os profissionais da área da saúde geralmente consideram questões relacionadas à equidade social, comunidade, justiça ambiental e qualidade de vida quando falam sobre saúde pública. E as discussões sobre construções sustentáveis estão começando a se mover nesta direção.
Embora a saúde sempre tenha sido considerada por edifícios verdes, era difícil quantificar os resultados se compararmos, por exemplo, com o consumo de água e energia. Mas como a relação entre mudanças climáticas e a saúde humana se torna cada vez mais evidente – juntamente com o interesse em viver vidas mais saudáveis - tanto empresários quanto indivíduos estão se tornando mais conscientes quanto aos quesitos de saúde holística e o bem-estar em seus ambientes construídos. Como o sistema de classificação de edifícios verdes mais conhecido, o sistema de classificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) do U.S. Green Building Council será o primeiro a ser analisado em termos de como a saúde e o bem-estar estão sendo incorporados no diálogo das construções sustentáveis.
Saúde e Bem-Estar na Certificação LEED
Desde a sua concepção, o LEED incluiu várias estratégias e métricas abordando problemas de saúde, embora os benefícios deste tema no início não fossem tão bem documentados quanto agora. Os créditos do LEED que abordam diretamente a saúde física residiam principalmente na categoria de Qualidade Ambiental Interior (QAI) e incluíam oportunidades que visavam, obviamente, mitigar práticas nocivas, como o pré-requisito “Controle Ambiental da Fumaça de Tabaco” e créditos como materiais de baixa emissão e controle de poluentes no interior, todos os quais lidam com a inalação de produtos químicos nocivos.
Outros créditos – incluindo conforto térmico, luz do dia e vistas, acesso ao transporte público e espaços abertos – também abordaram a saúde e o bem-estar, embora os impactos sejam vistos como “mais suaves” do que os associados à inalação de produtos químicos nocivos. Estes créditos focavam mais no bem-estar do que nos impactos mensuráveis sobre a saúde física, embora a conversa inclua a saúde física e mental. Ambas as categorias de créditos abordando o bem-estar físico e mental foram incluídas em cada uma das atualizações do LEED.
Um projeto que busca a certificação LEED não terá foco exclusivo na saúde e bem-estar do ocupante, como se teria em sistemas mais recentes, como o WELL Building Standard.
Evolução do LEED
O sistema de classificação LEED evoluiu ao longo dos anos para continuar a impulsionar o mercado e o movimento da construção sustentável. Com a implementação do LEED 2009, o USGBC desenvolveu e integrou uma estrutura analítica em todo o sistema de classificação para alocar pontos de acordo com a capacidade dos créditos reduzirem problemas ambientais. Essas categorias de impacto foram baseadas nas categorias do TRACI da EPA (Tool for Reduction and Assessment of Chemical and Other Environmental Impacts) e foram adotadas para incluir questões de saúde e questões específicas para o ambiente construído. Com o LEED v4 lançado no final de 2013, o sistema foi atualizado para atender objetivos sociais, ambientais e econômicos, resultando nas seguintes categorias de impacto:
– Contribuição reversa para mudanças climáticas;
– Melhorar a saúde humana e o bem-estar;
– Proteger e Restaurar Recursos Hídricos;
– Proteger a Biodiversidade e Ecossistemas;
– Promover Materiais de Ciclos Sustentáveis e Regenerativos;
– Construir uma economia mais verde;
– Melhorar a comunidade, a equidade social, a justiça ambiental e a qualidade de vida.
Embora apenas uma das sete categorias de impacto LEED v4 referencie especificamente a saúde humana, pode-se dizer facilmente que uma melhoria em cada uma das outras seis proporcionaria melhores ambientes construídos, o que levaria a melhores níveis de saúde. Melhorar a qualidade de vida e a equidade social em todos, certamente resultará em uma população mais saudável. Inverter as mudanças climáticas melhoraria a saúde, uma vez que os principais eventos climáticos são mitigados e a qualidade do ar melhoraria. Proteger e restaurar os recursos hídricos, sem dúvida, melhorará a qualidade de vida e os resultados de saúde para a população humana, em áreas urbanas e rurais, desenvolvidas e subdesenvolvidas.
Além disso, o USGBC desenvolveu um novo crédito piloto de Processo Integrado para Promoção da Saúde para o LEED v4 BD+C. Este crédito piloto incentiva as equipes de projeto a considerar sistematicamente as relações entre saúde e os resultados ambientais de seus projetos, começando no anteprojeto. O objetivo geral do crédito é que equipes avaliem como o projeto e a construção de um edifício podem afetar, de forma holística, a saúde física, mental e social. O crédito requer uma parceria com um profissional de saúde e inclui estratégias de análise que abordam as necessidades de saúde da comunidade e desigualdades na saúde. O LEED ainda é o líder em todos os sistemas de classificação de edifícios verdes e, como tal, é o mais fácil de se envolver. No entanto, um projeto que busca a certificação LEED não terá foco exclusivo na saúde e bem-estar do ocupante, como se teria em sistemas mais recentes, como o WELL Building Standard. Deve-se notar, porém, que o USGBC é um amigo íntimo de WELL, em particular com Rick Fedrizzi – CEO e presidente fundador do USGBC desde 2001 – recentemente deixando o USGBC e se tornando presidente e CEO do International WELL Building Institute. O sistema mais recente poderia, em última instância, se tornar a nova seção da categoria QAI para o LEED depois de se tornar mais estabelecido, proporcionando uma maior ênfase na saúde no ambiente construído dentro da estrutura LEED que conhecemos.
Texto escrito por:
Traci Rose Rider, Ph.D., AIA, é pesquisadora na North Carolina State University’s Design Initiative for Sustainability & Health e professora assistente de arquitetura na North Carolina State University’s College of Design.
Original em: www.aia.org/articles/142541-how-health-factors-into-green-building-rati