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Cresce o movimento de green building nas cidades do interior. Conheça alguns empreendimentos certificando LEED nas cidades de Eusébio/CE, Pouso Alegre/MG e Ribeirão Preto/SP

Publicado em 07 . 06 . 2022

Atualmente estamos observando o número crescente de empreendimentos buscando a Certificação LEED nas cidades do interior do Brasil, como alguns estudos de caso da Ares nas cidades de Ribeirão Preto (SP)- filial da MAPFRE Seguros , Eusébio (CE) – Sede da empresa Sou Energy e Pouso Alegre (MG) – Edifício 249/ Uso misto – Cartório e Residencial (Projeto: Manoela Abrahão Arquitetura & Design). Tendemos a achar que as certificações são mais comuns em metrópoles e capitais, o que era verdade há pouco tempo. No entanto, as vantagens em se certificar edificações são tantas que, o que temos observado hoje, é uma tendência de interiorização. Empreendimentos de diversos portes e localizados não só em grandes centros urbanos, mas também em pequenos municípios, têm percebido, cada vez mais, os benefícios das certificações. Esse aumento da credibilidade se deve à maximização da eficiência energética, redução nos custos operacionais, mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, aumento da produtividade, satisfação e bem-estar dos usuários, sem contar na valorização da marca.

É importante ressaltar que, mesmo contendo tipologias de uso distintas, as três edificações são de usufruto do proprietário, sendo classificadas na categoria LEED BD+C NC e um forte fator motivacional para os clientes foi o destaque devido ao pioneirismo da Certificação em suas cidades. Todos já efetuaram o registo na Plataforma LEED Online, no entanto, se encontram em fases distintas de certificação. Enquanto a sede da Sou Energy está em elaboração de anteprojetos (arquitetura e complementares), o Edifício 249 já concluiu a etapa Design Final Review, mas ainda não deu início às obras e a MAPFRE está concluindo a obra e submissão da etapa Construction Preliminary Review.

Os principais desafios locais encontrados no processo de certificação desses empreendimentos foram:

  •  Dificuldade na disponibilização de dados pelos órgãos competentes, em relação à linhas de ônibus e seus itinerários, implantação de ciclovias, mapas de hierarquias viárias, mapas de inundação, dentre outros. Os dados muitas vezes ainda não foram mapeados ou não se encontram de fácil acesso em portais, aplicativos ou outras plataformas de compartilhamento.
  • Dificuldade de encontrar localmente profissionais diversos, fornecedores, projetistas e construtoras com experiência em LEED. Em alguns casos, o incorporador optou por levar sua equipe e/ou mão-de-obra de confiança, especializada em determinado tipo de serviço, em detrimento da contratação de profissionais locais.
  • Falta de práticas consideradas comuns em grandes cidades e escritórios/ construtoras de maior porte, como: compatibilização de projetos, domínio sobre projetos na plataforma BIM, coleta seletiva e parcerias na destinação dos resíduos, implementação de planos de controle de obra, a exemplo do ESC e PGRS. Em alguns casos essas condutas já se encontram em processo de desenvolvimento e/ou implementação, mas ainda não foram efetivadas.
  • Inexistência de políticas públicas locais ou iniciativas privadas de instituições financeiras visando o fomento à construção sustentável.
    Em contrapartida, notamos que diante das dificuldades, a tendência foi formar equipes interdisciplinares de projetistas por todo o Brasil, impulsionado pelo advento e consolidação do home-office e facilidade de reuniões via videoconferência nos últimos anos. Outro aspecto positivo foi o estímulo a fornecedores e construtores locais e regionais no sentido de buscar um diferencial de mercado, através do aumento da capacitação profissional, incentivo a testes de desempenho e aperfeiçoamento na produção dos materiais.

 

Os três empreendimentos têm em comum o desejo da obtenção da Certificação LEED. No entanto, vale lembrar que as tipologias e áreas construídas são diferentes, os tipos de clima em que estão inseridos são totalmente distintos e, portanto, os propósitos também podem divergir, apesar de todos estarem se guiando pelo mesmo norte.

Por estarem localizados em centros urbanos e mais precisamente em áreas de interesse histórico, o Edifício 249 e a MAPFRE conseguiram muitos pontos devido à implantação em locais de alta prioridade, à alta densidade e usos diversos no entorno, como também pelo amplo acesso a transporte de qualidade. Em contrapartida, a sede da Sou Energy possui um terreno mais generoso, sendo prevista a pontuação em créditos que envolvem espaços abertos externos incentivando as interações sociais e com o ambiente, gestão das águas pluviais infiltradas nesses espaços e bicicletário com vestiários.


Cabe destacar que a MAPFRE conseguiu pontos interessantes através do suporte financeiro ao projeto Amigos da Floresta da The Green Initiative, onde a empresa se comprometeu a plantar 1200 árvores nativas do bioma Mata Atlântica, realizando sua manutenção pelo período de 2 anos. Outros pontos que merecem destaque são a aquisição de REC’s, a obtenção de dois créditos pilotos que incentivam a iluminação natural eficiente e vistas externas de qualidade em espaços de ocupação transitória (além dos pontos já obtidos para os espaços regularmente ocupados) e a pontuação máxima da opção no crédito de Análise de Ciclo de Vida. Isso se deu por se tratar de um retrofit de edifício existente e pela reutilização dos seus elementos estruturais, reduzindo em: 78,5% o potencial de aquecimento global, 61,2% o esgotamento da camada de ozônio estratosférica, 74,3% a acidificação da terra e fontes de água, 65,4% a eutrofização, 75% a formação do ozônio troposférico e 59,4% o esgotamento dos recursos energéticos não renováveis.

Como a MAPFRE e o Edifício 249 já tiveram sua análise de projeto concluída e revisada pelo GBCI, já temos potenciais de reduções mais consolidados, enquanto na Sou Energy estamos trabalhando com estimativas desenvolvidas por simulação computacional preliminar – Simple Box – baseada no anteprojeto de arquitetura.


Quanto ao consumo de energia, o Edifício 249 adotou várias estratégias para conquistar 16% de economia em relação a uma edificação base: cores claras na fachada para reduzir a absorção de calor; brises no cartório visando a minimização do ofuscamento e proteção da insolação nas estações de trabalho; porção residencial com varandas generosas a fim de reduzir a insolação intensa direta, além da ventilação natural cruzada nos apartamentos; equipamentos eficientes de condicionamento de ar (VRF no cartório e splits nas residências); iluminação artificial em LED com alto IRC e painéis fotovoltaicos para geração de energia elétrica. Já a MAPFRE atingiu 41% de economia de energia devido ao isolamento criado pela composição da cobertura (telha metálica + 5cm de EPS + telha metálica + câmara de ar + forro mineral – transmitância total de 0,73 W/m²K) e vidros duplos nas aberturas, além do sistema de ar condicionado VRF de alta eficiência e a iluminação artificial em LED. Para a Sou Energy, existe uma economia de energia prevista de 40%, estimada através de simulação termoenergética preliminar. A energia solar está no cerne da empresa e por isso será prevista uma usina fotovoltaica na cobertura, visando também, a obtenção da Certificação GBC Brasil Zero Energy pelo balanço energético anual zerado 1 ano após ocupação. Além disso, em razão do clima de Eusébio – litorâneo quente e úmido com desconforto por calor em 98% das horas no ano segundo o ProjetEEE – 2020, foi necessário adotar estratégias para minimização desse desconforto. Um projeto de ângulos ótimos de sombreamento por fachada foi adotado através de análises paramétricas, resultando em shingles (brises) que proporcionam uma otimização da proteção solar. Assim, esses
dispositivos inovadores promoveram uma economia estimada de 13% no consumo de ar condicionado quando associado a um sistema eficiente (> 3.7 EER) para resfriamento. Todas as estratégias de projeto foram corroboradas por estudos técnicos e avaliações de desempenho desenvolvidas no software Energy Plus e baseadas na metodologia da ASHARE 55 –2013, além do software Rhinoceros com auxílio do Grasshopper, para verificação da radiação incidente nas fachadas. Os shingles permitiram uma maximização da integração entre luz natural e artificial, evitando o ofuscamento na maioria dos espaços. Isso ocorre, pois, esses dispositivos protegem o ambiente da incidência solar indesejada (no mínimo em 94% das horas ocupadas) e garantem uma autonomia de luz natural em cerca de 90% dos espaços regularmente ocupados, de acordo com simulações desenvolvidas no Rhinoceros com o plugin Climate Studio.

Em relação ao uso de água, o Edifício 249 conquistou 41% de economia de água interna devido à especificação de equipamentos economizadores (vasos sanitários dual flush, torneiras com arejadores e chuveiros com restritores de vazão) e 100% da água destinada para irrigação foi proveniente de reaproveitamento das águas de chuva. A MAPFRE chegou a 61% de economia de água potável interna, pois além de dispositivos economizadores, as águas pluviais tratadas foram destinadas para descargas sanitárias. Na Sou Energy, também estima-se uma economia significativa, visto que haverá uma ETA para águas do poço artesiano, uma ETE para águas negras e pluviais (captadas pela cobertura e pisos externos), sendo ambas direcionadas para reservatório de reuso, destinado para irrigação dos jardins e descargas sanitárias.

Além das diretrizes incorporadas na fase de projeto, os empreendimentos almejam, ao longo da obra, o reaproveitamento de 75% ou mais do total do material de construção e demolição. Além de cumprir com os requisitos do Plano de Gerenciamento de Resíduos, também estão sendo mapeadas estratégias para atendimento dos Planos de Controle de Erosão e Sedimentação e de Gerenciamento da Qualidade do Ar Interior. Por fim, está sendo prevista a instalação de materiais que possuem declarações ambientais e cujas informações de ciclo de vida estejam disponíveis pelos fabricantes, bem como materiais reciclados e madeiras oriundas de manejo florestal.

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por, Paula Rocha Leite, Ares Sustentabilidade

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