Quando falamos de carbono nas construções, lidamos com as emissões de gases do efeito estufa (GEE) relacionados às edificações. Acontece que essas emissões estão presentes no ciclo de vida completo da edificação e estão ligadas à esta direta e indiretamente. Existem dois conceitos que precisam ser esclarecidos para entendimento das emissões de GEE nas construções: carbono incorporado e carbono operacional.
O carbono incorporado, ou energia incorporada, compete às emissões ligadas aos materiais da construção. Essas emissões são calculadas nas etapas de extração, manufatura, transporte, instalação do material, além das manutenções ou reposições necessárias ao longo da vida útil da edificação e o descarte deste no seu fim-de-vida.
Já o carbono operacional, ou energia operacional, é aquele relacionado à toda a energia necessária para a operação daquela edificação, seja esta eletricidade, gás ou outra fonte não renovável.
Importante enfatizar que fontes renováveis de energia, como fotovoltaica, eólica ou aquecimento solar, não são computadas no cálculo de carbono operacional da construção e são fortes contribuintes para o atingimento de construções net-zero. Entretanto, deve-se entender que a instalação de sistemas de painéis solares, turbinas eólicas ou qualquer outro sistema gerador de energia renovável, tem um pegada de carbono incorporado aos materiais de sua composição. Um exemplo são os painéis fotovoltaicos, conhecidos pelo alto carbono incorporado em função dos materiais e tecnologias atreladas à sua composição e sua manufatura. De acordo com um artigo da plataforma “Circular Economy”, a média de carbono incorporado de um painel monocristalino é de 2.560 kg CO2e por kWp. A vantagem é que, dada a geração de energia durante sua operação e a consequente “descarbonização” da rede, os painéis compensam sua própria pegada durante a sua operação e, após isso, contribuem para a compensação do carbono ligado à construção em si.
Sendo assim, o carbono total ligado à uma edificação é a soma da energia incorporada mais a energia operacional da operação desta. Fato é que, quanto mais longa a vida útil da edificação, maior será a contribuição do carbono operacional. Também por conta disso, tem-se visto uma preocupação crescente com a questão da eficiência energética e dos conceitos de net-zero ou net-positive. Mas não devemos ignorar a parcela incorporada à construção.
De acordo com os compromissos apresentados pelo WGBC (World Green Building Council), até 2030, “as novas construções ou grandes reformas serão construídos para serem altamente eficientes, alimentados por energia renovável, com máxima redução do carbono incorporado e compensação das emissões residuais”. Sendo assim, ainda durante a fase de projeto, faz-se necessária a otimização dos materiais a serem utilizados na edificação. Para isso, contamos hoje com softwares especializados de análise do ciclo de vida (ACV) que auxiliam no processo, junto aos projetistas, tornando-o mais eficiente e preciso.
Com o desenvolvimento de uma ACV é possível entender o impacto de cada componente da edificação desde sua execução e ao longo de sua vida útil. Para redução do carbono incorporado, são inúmeras as possibilidades de reduzir as emissões ligadas aos materiais da construção, como a adição de materiais reciclados ou reutilizados, utilização de sistemas construtivos com base renovável como a madeira engenheirada, entre outras. Já para o carbono operacional, ferramentas como simulações energéticas e hídricas permitem a criação de cenários otimizados que contribuirão para a compensação da energia remanescente ligada aos materiais.
Então, priorize sempre materiais que demandem menos energia durante sua fabricação, que originem de fontes renováveis e que provenham de áreas mais próximas, reduzindo assim não somente as emissões da fase de extração e manufatura, mas também no transporte deste até
à obra.
___
Por Sustentech