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Entrevista com Thais Inatomi

Publicado em 26 . 01 . 2015

Entrevista Thais Inatomi – Professora do curso EnergyPlus
 
Como as novas construções podem ter mais eficiência energética? 
Eficiência energética é um tema bastante abrangente e as áreas de atuação são inúmeras. Sem dúvida, a maneira mais eficaz de se alcançar ótimos resultados em relação à eficiência energética é desenvolver os projetos com esse foco desde a concepção inicial, desde os estudos preliminares.
Costumo dizer que o nível de eficiência energética de uma edificação é a resposta de um sistema integrado do qual todas as disciplinas que o compõe interagem entre si, com o usuário e com o ambiente exterior. Ou seja: arquitetura, iluminação, ventilação natural, ar-condicionado, automação, elétrica, hidráulica, e qualquer equipamento ou sistema que possa consumir ou gerar energia é parte deste sistema integrado, e é a correlação entre eles que irá definir se a edificação será mais ou menos eficiente energeticamente, além de adequada do ponto de vista do conforto ambiental.
Por exemplo, um bom projeto de arquitetura irá considerar o local de implantação, a orientação solar, e o clima em sua concepção. Irá sugerir proteções solares, vidros e materiais de construção adequados ao uso da edificação. Irá avaliar se é possível o projeto de arquitetura majorar o uso da ventilação natural e da iluminação natural, e trabalhar em conjunto com os projetistas de iluminação, elétrica, automação e ar-condicionado para isso, sem comprometer o conforto térmico ou o consumo de energia de um possível ou necessário sistema de ar-condicionado.
Ou seja, a eficiência energética será diretamente proporcional ao esforço despendido na fase de projetos, e tudo irá depender da disponibilidade de tempo para o seu desenvolvimento, do conhecimento técnico dos projetistas e consultores, do bom gerenciamento dos projetos e obra, e da flexibilidade e aceitação de inovações por parte do proprietário.
De que maneira as construções existentes podem aprimorar sua eficiência energética?
Assim como para as novas construções, o sucesso na redução do consumo de energia em edificações existentes também será proporcional à qualidade dos projetos, da implantação, da gestão e disponibilidade do proprietário. Entretanto, some a isto a qualidade dos dados levantados sobre a edificação. Muitas não possuem um cadastro de projetos atualizado, nem possuem ou seguem um manual de operação e manutenção. Mesmo que estes documentos existam, é recomendável uma verificação in-loco, além de identificar como a edificação está sendo ocupada efetivamente. De posse destes dados e das contas de energia é possível estimar se o consumo de energia está compatível com os projetos e dados levantados, e assim propor intervenções. As intervenções podem ser diversas: ajustes de operação, manutenção de motores e bombas, troca de lâmpadas, troca de vidros, reformulação de fachadas, ou até mesmo remoção e implantação de novo sistema de ar-condicionado. Tudo depende da disposição do empreendedor e da relação custo-benefício que os estudos irão apontar.
Comissionamento e simulações computacionais termoenergéticas  são sempre bem-vindas nestes casos. Junto com os projetistas, estes profissionais podem identificar falhas e sugerir diferentes cenários para majorar a eficiência energética da edificação, tornando possível a análise de payback destes investimentos. Com o comissionamento pode-se identificar o consumo de energia por uso final, ou até mesmo por equipamento, facilitando assim a detecção de falhas pontuais de operação e manutenção. Já as simulações computacionais facilitam a proposição de estratégias e cenários para majorar a eficiência energética, demonstrando qualitativa e quantitativamente os impactos que cada alteração de projeto terá no consumo e custo de energia ao longo de um ano.
As edificações existentes são um mercado gigante para o ramo de eficiência energética, e se houvesse um maior investimento e planejamento eficaz para a redução do consumo de energia destas edificações, talvez a necessidade de investimentos em nossa matriz energética fosse menor.
O comissionamento pode contribuir com a eficácia energética? Nas construções novas ou antigas? Por que? Como consegui-lo?
Para novas construções, assim como para as edificações existentes, o comissionamento e as simulações computacionais termoenergéticas mantêm seu precioso valor. As simulações são fundamentais por possibilitar, ainda na fase de desenvolvimento de projetos, análises de quais estratégias podem maximizar a eficiência energética da edificação, e quais serão os impactos no consumo e conta de energia, assim como os impactos no conforto ambiental.   Já o comissionamento é fundamental pois garantirá que o que foi projetado será implantado na obra, e operado e mantido quando a edificação estiver pronta. Todos os esforços dos projetistas e consultores serão perdidos se a implantação, manutenção ou a operação forem inadequadas.
Como os engenheiros e arquitetos podem driblar as críticas de que obras verdes são mais caras?
Quando se fala exclusivamente em eficiência energética de edificações sustentáveis, e quando é o próprio empreendedor que irá construir e ocupar a edificação, fica muito claro que os investimentos em eficiência energética se pagam. Lógico que, para isso, é necessário um balanço comedido entre custos de implantação e custos com energia elétrica. A relação custo-benefício acaba sendo um dos principais itens nas análises de eficiência energética.
Quando o empreendedor não irá ocupar ou administrar a edificação, o cenário é outro, e justificar o retorno financeiro dos investimentos em eficiência energética fica mais complicado, pois o retorno ao empreendedor se dá apenas na venda ou locação do imóvel. Em outras palavras, os investimentos para melhorar a eficiência energética podem ser mínimos, mas não serão implantados se não trouxerem algum benefício financeiro ao empreendedor. São barreiras culturais a serem rompidas, e que só o serão quando houver, por exemplo, incentivos fiscais ou outorgas onerosas que beneficiem o empreendedor de algum modo.
Para os construtores, futuros e atuais moradores/ locatários de obras verdes, quais as vantagens? Como transformar a eficiência energética em diferencial competitivo?
As certificações de edificações sustentáveis deram maior visibilidade ao tema, mas a eficiência energética só é um diferencial competitivo a partir do momento que permite conforto aos usuários e lucros financeiros, seja ao locatário ou ao empreendedor. A boa relação custo-benefício entre implantação e operação sempre será o fundamento para as edificações que buscam a eficiência energética. Equacionar esta relação pode ser difícil, mas sempre será produtivo se o foco for a sustentabilidade.
 
Thais Inatomi é professora do curso de Simulação Computacional Termoenergética – Energy Plus  do GBC Brasil

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