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Quem não se lembra do aviso pedindo aos hóspedes para evita a troca de toalhas? E do cartão que serve de chave para abrir o quarto do hotel e evitar que as luzes fiquem acesas sem ninguém no ambiente? Mais do que pedir aos viajantes que economizem os recursos naturais – mudando de mãos a responsabilidade pela preservação do meio ambiente –, empresas de turismo perceberam que é preciso ações efetivas para, de fato, serem considerados sustentáveis. E têm feito investimentos nesse sentido, para além do Dia do Mundial do Meio Ambiente, celebrado neste sábado (5).

“Em fevereiro deste ano conquistamos a certificação de uso de energia limpa, proveniente de fontes eólica, solar, pequenas centrais hidrelétricas ou a partir de biomassa, em nove das dez unidades que temos no País. Apenas o Vila Galé Paulista será certificado até 2022”, afirmou José António Bastos, diretor de operações no Brasil do grupo hoteleiro português.

De acordo com ele, a sustentabilidade é aspecto essencial levando em conta que “as dimensões dos empreendimentos demandam um consumo de energia considerável”. “Somos a maior rede de resorts operando no Brasil e a segunda maior rede hoteleira de Portugal. Temos 37 hotéis e mais duas vinícolas. Isso traz grande responsabilidade no sentido de influenciar o mercado, atuando como exemplo.” Em 2019, o grupo registrou 1,5 milhão de pernoites no Brasil, o que equivale a mais de 500 mil hóspedes.

Com o intuito de colaborar com a preservação do ecossistema e da fauna (em especial, tartarugas-marinhas e peixes-boi), o Vila Galé mantém parceiros nas áreas onde atua no Nordeste, caso do Projeto Tamar (BA), ONG Numar (RN) e Projeto Aquasis (CE).

Preservação

Grupo Rio da Prata, à frente de atrativos na região de Bonito (MS), também empreende diversas iniciativas sustentáveis. “Temos um barco movido a energia solar no Recanto Ecológico Rio da Prata e outro na Estância Mimosa Ecoturismo. Desde junho de 2020, nossa usina fotovoltaica nos permite gerar a própria energia, o que equivale a preservação de mais de 30 árvores por ano”, disse Luiza Spengler Coelho, diretora de Sustentabilidade da empresa.

Em agosto do ano passado, o grupo inaugurou sua fábrica de biofertilizante. “O subproduto é aplicado no pomar, no sistema agroflorestal e nas pastagens. A meta é substituir a compra de adubo”, explicou Luiza

A fazenda mantém um viveiro de mudas. “Elas são usadas em projetos de recuperação dentro e fora da propriedade e também doadas a instituições que trabalhem nessa temática. As mudas foram plantadas, por exemplo, na recuperação de matas ciliares e no reflorestamento às margens do Rio Mimoso, em Bonito.” As sementes são coletadas diretamente na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Cabeceira do Prata, criada em 1999.

“A operação turística do Recanto Ecológico Rio da Prata é baseada na beleza singular da RPPN, que associa uma grande biodiversidade à presença de águas transparentes, permitindo uma atividade de contemplação e interação com a natureza”, afirmou Luiza. Antes da pandemia, a empresa recebia em média 150 pessoas por dia na alta temporada para flutuação na área.

“Ao proporcionar o contato de visitantes do mundo todo com esse ambiente exuberante, o passeio visa a promover a conscientização e divulgar a importância das RPPNs para a conservação de áreas naturais, além de fomentar o desenvolvimento do turismo sustentável na região, uma alternativa para a geração de renda sem destruição dos recursos naturais.”

Instituto Inhotim, conhecido pelos jardins, obras de arte ao ar livre e galerias, também tem sua RPPN – essa, fechada para visitação. E conta com um banco de sementes, com mais de 220 mil exemplares de 34 espécies da Mata Atlântica e do Cerrado. Ele é usado para a conservação da biodiversidade local e também para troca ou doação para outros jardins botânicos, instituições e pesquisadores.

“O nosso País é um dos mais biodiversos e fomos acostumados à abundância. Achamos que a flora vai estar sempre aqui. É triste, mas essa devastação vem acontecendo”, contou Juliano Borin, curador botânico do instituto em Brumadinho (cerca de 60 quilômetros de Belo Horizonte).

O Instituto, que faz 15 anos em 2021, também trabalha a educação do público – metade vai em dias gratuitos. E, recentemente, lançou uma exposição sobre botânica no Google Arts & Culture.

Preocupação ambiental dentro do próprio negócio

Proprietário de hotéis e parques, o Gramado Parks se atenta para a preocupação ambiental desde a construção. “Todos os nossos projetos já nascem com o selo Leed de green building. Isso envolve métodos construtivos e estudo de impacto na vizinhança”, explicou Fábio Bordin, vice-presidente de Implantação do grupo, referindo-se à certificação concedida pela organização sem fins lucrativos US Green Building Council (Conselho Americano de Construção Sustentável).

“Hoje em dia, como cliente, já olhamos para isso e tem uma comunidade que só vai a lugares sustentáveis”, disse o executivo do grupo que há três meses inaugurou o hotel Bella Gramado e se prepara para abrir o parque aquático Acquamotion, na Serra Gaúcha, em 24 de junho.

Como conciliar turismo de massa com sustentabilidade? É a questão que a CVC Corp pôs à prova com a adesão ao Pacto Global da ONU e o anúncio de uma ambiciosa estratégia de sustentabilidade até 2030. O grupo, que reúne marcas como CVC, Submarino Viagens, Trend, Almundo e Experimento, lançou o REprograma CVC Corp em busca de ser protagonista no assunto.

“A empresa tem uma história longa, mas sempre se pautou muito por explorar destinos e produtos. Deu muito certo, por isso estamos aqui. Mas a companhia nunca entrou no protagonismo de um negócio de longo prazo nessa área”, disse Leonel Andrade, CEO da CVC Corp, em entrevista exclusiva ao Estadão. “A CVC não preserva, não cuida. Não é nenhuma vergonha admitir isso e estamos aqui para tentar corrigir.”

O REprograma CVC Corp irá envolver toda a cadeia do turismo. A companhia quer encorajar boas práticas dentro da empresa e entre viajantes e parceiros, como hotéis e empresas de transporte. Começa com o lançamento do Guia do Viajante Consciente e a criação do Instituto CVC para focar em educação, conservação e regeneração da biodiversidade do País. “Vamos adotar dois biomas, não definidos, provavelmente um na praia e um de interior. A gente não vai salvar o planeta, mas pode melhorar.”

Replantio da mata nativa em São Paulo e no Rio

No interior paulista, o Grupo Clara Resorts preserva matas nativas e já promoveu o plantio de cerca de 40 mil árvores, em parceria com ONGs locais (SOS Itupararanga de Ibiúna e Ecociente de Dourado). “É só o começo. Precisamos deixar um legado de preservação para as futuras gerações”, afirmou Taiza Krueder, CEO do grupo, com o Clara Ibiúna Resort e o Santa Clara Eco Resort, em Dourado. “Aumentamos anualmente as nossas áreas de florestas e já sentimos uma mudança no clima e na fauna. Onde tinha cana de açúcar, agora tem árvores com macacos, tucanos, saguis e sabiás. É lindo observar o poder dessa transformação em menos de uma década.”

A empresa trata 100% do esgoto em estações próprias, e energia solar aquece a água usada nas acomodações e na cozinha desde 2005. As iniciativas são parte do Projeto Clara Verde, vencedor na categoria Meios de Hospedagem do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 2019/2020, a mais recente edição da premiação realizada pela Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa). “Nós acreditamos que a verdadeira sustentabilidade é aquela que você consegue manter a longo prazo e de forma cíclica”, disse Taiza.

Visitantes, funcionários e comunidade são estimulados a conservar o patrimônio natural no entorno das unidades do Clara Resorts, assim como ocorre no Rosa dos Ventos, hotel em Teresópolis, na serra do Rio. “Fazemos o plantio de uma árvore nativa, um evento festivo que as crianças adoram e levam o certificado com o nome delas ou dos pais”, contou Helenio Waddington, proprietário do hotel e presidente da Associação Roteiros de Charme.

“O programa de preservação começou em 1972 quando compramos uma fazenda de gado e transformamos em um projeto socioambiental. Havia somente pastos. Após 40 anos, a Mata Atlântica abraça a parte da propriedade onde depois foi construído o hotel, conseguindo com isso a recuperação de fauna e flora e das nascentes de água mineral, que abastecem apartamentos, áreas sociais e serviços”, disse Waddington. O lago na região mais elevada do terreno irriga por gravidade os jardins e a horta orgânica.

Bondinho Pão de Açúcar também usa a Física para economizar energia no sobe e desce da atração turística, com média de 1,6 milhão de visitantes anuais antes da pandemia. “As cabines se movimentam simultaneamente, uma subindo e outra descendo, puxadas pelo mesmo cabo, tracionado por um motor elétrico. O peso da que desce é aproveitado para gerar o movimento, puxando o cabo e economizando energia. Quando uma cabine sobe vazia e a outra desce cheia, o saldo de energia acaba sendo positivo, pois ela não foi gasta para subir”, explicou Sandro Fernandes, CEO da empresa.

Na década de 1980, a companhia iniciou o trabalho de reflorestamento do Morro da Urca. Atualmente realiza a compostagem de quase 100% dos resíduos orgânicos gerados no parque (uma média anual de 55 toneladas) e recicla plástico, alumínio, papel e vidro (48 toneladas em 2019). “Em nosso tour ecológico, os visitantes têm a chance de aprender sobre a relevância da fauna e flora do parque para o ecossistema, além de conhecer nossos projetos de conservação ambiental e iniciativas sustentáveis”, disse Fernandes.

“O compromisso com o meio ambiente faz parte do DNA do Bondinho Pão de Açúcar. Somos um parque em uma área aberta e em contato direto com a natureza. Quando falamos em conservação e preservação, todos precisam fazer a sua parte. Não podemos esperar um ao outro para começar a agir. É fundamental pensar globalmente e agir localmente.”

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por, Nathalia Molina, Estadão

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