Vivemos nos últimos anos momentos jamais imaginados. Durante a pandemia, observamos ainda mais a importância de interiores residenciais que favoreçam conforto, garantam saúde e bem estar, proporcionando qualidade de vida aos seus moradores. Nunca havíamos passado tanto tempo dentro de nossas casas, isolados socialmente. A casa passou a ser usada para todos os fins: domésticos e profissionais. Hoje, com o novo normal, observa-se a consolidação do trabalho e do ensino híbridos, ressaltando a necessidade de discutirmos e implementarmos soluções para prepararmos nossas habitações, nosso lar, para o mundo contemporâneo, duramente afetado por problemáticas sociais, ambientais e econômicas.
O modelo híbrido coloca em evidência a urgência em desenvolvermos espaços apropriados às suas novas rotinas e funções. A adequada iluminação natural, a benfeitoria do banho de sol para a nossa saúde, o conforto térmico e acústico e também, o adequado espaço para a Gestão de Resíduos, aumentados consideravelmente em nossas residências, durante a pandemia, são temas que precisam ser tratados pelo mercado imobiliários e os profissionais responsáveis pela arquitetura de interiores; sobretudo aqueles responsáveis pelas reformas, sejam elas executadas em edifícios novos ou antigos.
Em um recente trabalho de pesquisa, Roque (2022) destaca que apesar de, no Brasil, o processo de urbanização das cidades ser mais recente e das edificações serem relativamente mais jovens, quando comparadas com aquelas existentes nas cidades europeias, em grandes centros urbanos, como no município de São Paulo e sua região metropolitana, o envelhecimento do parque edificado começa a ser mais perceptível, atingindo patamares inéditos e suscitando cuidados para que o patrimônio construído permaneça cumprindo sua função de abrigar atividades humanas. A autora, por meio da pesquisa realizada no site da prefeitura de São Paulo, disponível em http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/, destaca, no gráfico 1, a idade das unidades habitacionais em São Paulo, apontando um panorama, ao mesmo tempo, de grande desafio e oportunidades para os profissionais e para a sociedade debaterem e implementarem medidas sustentáveis.
Gráfico 1 – Idade das unidades habitacionais em São Paulo, Roque (2022).
Neste cenário, fica evidente o compromisso de nos posicionarmos setorialmente e passarmos a projetar e construir interiores habitacionais, atendendo às novas demandas, ressignificando o lugar do viver, do conviver, priorizando saúde, qualidade de vida, reduzindo e valorizando os recursos naturais.
Na nova forma de projetar devemos buscar soluções sustentáveis que priorizem a emissão de baixo carbono, baixo consumo energético em todo o processo de produção do edifício, uso de materiais renováveis, dando prioridade para a economia circular.
Nosso compromisso passa a ser o de reformar os espaços, proporcionando aos usuários acesso a pequenos refúgios, garantindo uma qualidade de vida física, mental e espiritual. Para tanto, uma equipe multidisciplinar de profissionais envolvidos na reforma faz-se fundamental.
O protocolo LIFE para interiores habitacionais, desenvolvido durante a pandemia, evoca uma metodologia baseada na gestão integrada de projetos, passando por uma avaliação de hábitos e costumes dos usuários, buscando a sensibilização pelo consumo consciente, instigando reflexões, incitando a busca por soluções, que possam responder aos temas abordados, apresentados na tabela 1.
Tabela 1 – Categorias Protocolo Life Residencial, GBC (2022).
A proActive (www.proactiveconsultoria.com.br), referência na implementação de soluções sustentáveis na Construção Civil brasileira e pioneira na implementação das certificações, envolveu-se desde o princípio com a Certificação GBC LIFE, inscrevendo 3 projetos pilotos no processo de ajustes e validação do Referencial Técnico: 1 apartamento em São Paulo, Capital; 1 apartamento em Recife e uma casa na Granja Viana.
Nosso compromisso em desenvolver projetos que se integram à fase de produção, permitindo otimização de custos e reduzindo o impacto ambiental da construção civil, nos levou à conquista do primeiro certificado Life no Brasil, o projeto piloto 001, Residencial 151 Perdizes, ilustrado na Figura 2.
Figura 2 – Certificado GBC LIFE, projeto Piloto 001
No caso particular do primeiro piloto, o Residencial 151 Perdizes, a interação da equipe de consultores com o arquiteto e o proprietário foi colaborativa. O briefing do projeto encontravase definido, desenvolvido antes do engajamento do proprietário com a certificação. Era indispensável uma adequação às exigências do protocolo LIFE. A equipe de consultoria, por meio de reuniões virtuais, orientativas, exemplificativas, conduziu o processo de análise, vital para a redefinição do programa do empreendimento, fase mais importante em uma Gestão Sustentável de Projeto. A metodologia proposta pela proActive elucidou os requisitos e critérios, auxiliando o proprietário e o arquiteto na tomada de decisão, destacando os benefícios na fase de uso e operação; sobretudo, em sua qualidade de vida!
A reforma do apartamento de 10 anos já estava planejada. O protocolo LIFE propiciou ao proprietário enaltecer a sua preocupação com o meio ambiente, com a saúde e o bem estar. Ao ser apresentado ao processo, decidiu reavaliar e incluir novas soluções, não previstas no projeto original. Para o proprietário, envolvido com o propósito do desenvolvimento sustentável, a Certificação contribuiu para pensar de maneira sustentável, mudar hábitos e proporcionar novos aprendizados. Em uma das entrevistas comentou “sempre achei que morava em um apartamento com o conforto suficiente para as minhas necessidades. Quando a consultoria tentou me convencer de que eu precisava de um blackout no quarto para ter um repouso mais profundo, achei engraçado, pois eu durmo que nem uma pedra. Mas, depois que foi colocado o blackout, percebi que eu acordo muito mais descansado. A certificação explora detalhes, coisas simples, que fazem a diferença. Me encantou o propósito da Certificação LIFE com a responsabilidade social. (GBC em Ação, 2022).
Algumas soluções incorporadas ao escopo da reforma, que já contava com diretrizes para o atendimento ao conforto acústico, lumínico e de acessibilidade, foram:
Ressalta-se o cuidado com a gestão sustentável durante toda a execução da obra, ou seja, houve o cuidado com a limpeza, com o uso de produtos de baixo composto orgânico volátil e com a gestão dos resíduos.
Totalmente alinhada aos propósitos do proprietário, a Certificação LIFE somou, ensinou, acrescentou conhecimentos que tornaram o Residencial 151 Perdizes um lar que respira Aconchego e Vida! Sem dúvida inspirará profissionais e a sociedade civil a aderirem ao Desenvolvimento Sustentável.
O desafio é enorme!
O confinamento nos advertiu para a urgência em projetarmos espaços sadios, confortáveis, modulares e flexíveis, adaptáveis às necessidades de cada família; além disso, precisam estar inseridos em um cenário urbano, que considere um uso misto de funções, fazendo coexistir edifícios residenciais, corporativos, de serviços e de lazer em uma mesma região.
Precisamos proteger o nosso lar, o planeta Terra. O caminho? Adoção de políticas de baixo carbono, incentivo à pesquisa, definição de indicadores, metas e mecanismos de monitoramento das ações de curto, médio e longo prazos, objetivando resultados factíveis em um futuro próximo.
A certificação LIFE surge como um processo inspirador e motivador dessas mudanças. É preciso quebrar paradigmas, aproximar de maneira lúdica e holística a sociedade civil deste movimento mundial na direção da Responsabilidade Social e Crescimento Sustentável.
Contem conosco!
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Por Ana Rocha, Presidente da ProActive Consultoria
Engenheira Civil, Mestre e Doutora em Tecnologia e Gestão da Produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Pós doutora em Gestão Ambiental de Bairros Sustentáveis pela ISO 14001 e pelo processo de certificação HQE®, realizado em Paris, com supervisão da empresa de gerenciamento urbano SEMAPA e do Departamento de Engenharia de Produção da EPUSP. Participou da equipe técnica para experimentação da certificação ambiental francesa NF Bâtiments Tertiaires Démarche HQE pelo CSTB na França. Auditora Líder ISO 9001 e do Processo de Certificação AQUA-HQE pela Fundação Vanzolini. Autora de 5 livros técnicos relacionados à Gestão do Processo de Projeto e sua integração com a produção. Membro do Conselho Deliberativo do GBC Brasil Casa e Condomínio, do Grupo do Pacto Global do CRASP e do Grupo Conecticidade da Escola Politécnica da USP. Docente em disciplinas dos cursos de MBA Gestão de Projetos pelo FDTE POLI/USP. Participa do Grupo de Tecnologia e Sustentabilidade da AsBEASP. Professora titular do curso de Engenharia Civil da FAAP. Presidente da proActive, referência na implementação de soluções sustentáveis na construção civil brasileira, há mais de 2 décadas.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
GBC BRASIL – GREEN BUILDING COUNCIL BRASIL. Certificação GBC Brasil Life: Guia Completo.
São Paulo: GBC Brasil, 2021. Disponível em: https://www.gbcbrasil.org.br/wpcontent/uploads/2021/01/Guia-Completo-GBC-LIFE-mar21.pdf. Acesso em: 6 set. 2022.
GBC LIFE: Ponte com a sociedade civil. GBC em Ação Residencial. p.17-19, mai. 2022.
ROQUE, CAMILA PEREIRA. Reformas residenciais: aspectos da qualidade no processo de projeto para garantia de desempenho em edificações. São Paulo, 2022, 163p. Monografia (Especialização em Gestão de Projetos na Construção) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. 2022