Muitos países e empresas estão se comprometendo a zerar suas emissões líquidas até 2050 (ou antes), e investidores começam a evitar ativos relacionados ao carbono.
A descarbonização de uma economia moderna nunca foi feita, e apresenta riscos inerentes a governos e investidores. O sucesso depende de todos, desde proprietários de ativos imobiliários e investidores a formuladores de políticas públicas. Estes devem estar em sintonia com a forma que as políticas e regulamentações são desenvolvidas para alcançar economias de baixo – ou zero – carbono, e devem garantir que o capital de desenvolvimento em estágio inicial esteja disponível para avançar nos projetos certos.
As apostas são altas: o avanço desses projetos de infraestrutura é amplamente reconhecido como um aspecto crítico da recuperação econômica pós-COVID-19.
Mas como a recuperação econômica se encaixa na agenda da sustentabilidade? A chamada recuperação verde incorpora resiliência à infraestrutura para alcançar projetos zero carbono. O desafio está em identificar áreas de oportunidade seja para adoção de novas tecnologias ou para retrofit de ativos existentes. Além disso, empresas devem decidir quando deixar certas práticas de lado, como no caso da geração de energia através de combustíveis fósseis, que está chegando ao fim de sua vida econômica devido a mudanças regulatórias ou mercadológicas.
Nos próximos anos, investidores precisarão entender como os mercados serão afetados pela transição energética, tomar decisões com base nas políticas públicas correntes sobre o clima e buscar parcerias público-privadas.
Muitas oportunidades de investimento surgirão do aumento da digitalização, o aumento de veículos elétricos, uso de energia limpa e outras áreas de inovação. No entanto, as empresas devem gerenciar cuidadosamente essas oportunidades juntamente com os desafios de ativos ociosos.
Por exemplo, no Reino Unido as usinas elétricas a carvão serão retiradas da rede até 2025. Embora o carvão continue a ser uma fonte de geração de electricidade importante para alguns países da União Européia, os compromissos para atingir as metas de emissões líquidas zero exigirão que a UE adopte rapidamente novas fontes de energia (limpa).
Outra área importante é a infraestrutura de petróleo e gás, onde existem inúmeras questões: quando os veículos com motor de combustão interna serão banidos? Com que rapidez os consumidores migrarão para veículos elétricos? Ou ainda, com que rapidez as economias podem migrar para geração de energia limpa? Da mesma forma, as receitas que antes pareciam imutáveis, como as de certas rodovias, agora podem ser menos previsíveis devido a probabilidade de diminuição de tráfego nos próximos dez anos.
Se as economias esperam alcançar os objetivos climáticos, líderes dos setores público e privado precisarão enfrentar os desafios dos ativos ociosos, considerar as orientações e políticas climáticas mais recentes, além de determinar quando buscar novas oportunidades. Por exemplo, faz mais sentido fazer engenharia reversa em tecnologias de captura e armazenamento de carbono ou introduzir opções mais novas e mais limpas?
A determinação de como avançar com uma recuperação verde requer mudanças em grande escala no papel que a infraestrutura desempenha nas economias. As perguntas a seguir, que geralmente resultam em respostas interdependentes, podem ajudar a determinar o caminho a ser seguido pelo setor.
Proprietários e investidores devem entender a velocidade da transição dos próximos 10 a 15 anos, bem como quais mercados farão a transição completa e quais serão apenas impactados. Por exemplo, os setores de gás e transporte provavelmente precisarão fazer a transição para acomodar gás e combustíveis à base de hidrogênio, enquanto o setor de energia pode adotar tecnologias de captura e armazenamento de carbono.
Uma visão clara dos desafios pode ajudar a identificar oportunidades e, mais importante, evitar riscos de ativos ociosos. Com essa visão em mente, as empresas também precisarão alavancar ou atrair novos investimentos para seus projetos, o que requer uma avaliação cuidadosa dos ativos existentes, novas oportunidades de investimento e as últimas mudanças nas políticas públicas.
Os ativos devem ser à prova de futuro, seguindo as orientações climáticas atuais. Por exemplo, ativos localizados em áreas costeiras provavelmente precisarão de investimentos substanciais para aumentar sua resiliência climática a um nível que proteja seu valor por muitas décadas.
Muitas novas tecnologias e start-ups estão surgindo – todas alegando fornecer as soluções mais rápidas e limpas. Assim, é fundamental que os proprietários entendam os desafios nos níveis técnico e econômico, identifiquem oportunidades vinculadas entre os setores e busquem parcerias que sejam mutuamente benéficas. Como exemplo, uma parceria recente entre duas empresas europeias resultará no uso de infraestrutura eólica offshore para gerar hidrogênio, que é então injetado diretamente na rede de gás natural para reduzir as emissões. Nesse sentido, todos se beneficiam: os grandes players de infraestrutura que detêm as redes de gás; a própria indústria, que descarboniza; e clientes que recebem um produto mais limpo.
Investir em infraestrutura para descarbonizar requer pensamento a longo prazo. Em um mundo incerto onde a tecnologia está sempre evoluindo, as empresas e os formuladores de políticas públicas precisam ser realistas sobre a implementação de mudanças, e governos precisam ser claros e transparentes sobre como suas políticas evoluirão. Nos Estados Unidos, por exemplo, a mudança ocorre nos níveis federal e estadual. Os departamentos locais de transporte também precisariam ser envolvidos. No Reino Unido, as obrigações impostas aos reguladores provavelmente serão redefinidas para atender às necessidades em rápida evolução das economias zero carbono.
Não importa a região, uma discussão aberta sobre como as economias podem melhor empregar o capital público e privado para criar infraestrutura limpa e livre de emissões é fundamental. Para isso, devemos entender os mercados em que a concorrência saudável funcionará, aqueles que exigem intervenção regulatória e onde e como o governo e o capital privado podem trabalhar em parceria, incluindo orientações claras dos governos sobre modelos de financiamento de infraestrutura preferidos para permitir o investimento de capital privado.
Tecnologias ou ativos relativamente novos – como baterias mais potentes, captura e armazenamento de carbono, geração eólica offshore, veículos elétricos e gás hidrogênio – exigem diferentes modelos de financiamento para ajudar no desenvolvimento inicial. E governos, investidores, reguladores e a sociedade têm um papel a desempenhar.
As decisões tomadas hoje por proprietários de ativos imobiliários, investidores e formuladores de políticas públicas não devem ser tomadas sem muito pensamento, visto que afetarão as gerações futuras. É fundamental não apenas agir agora, mas agir de forma decisiva. Da mesma forma, as expectativas da sociedade sobre o que significa “fazer a coisa certa” estão mudando, incluindo onde investem os grandes fundos de pensão, como os ativos são administrados e como as melhores práticas são divulgadas.
Ao passo que as oportunidades estão aumentando em quantidade, a barra para o sucesso está, sem dúvida, ficando mais alta. No final, obter o conselho certo geralmente é uma questão de fazer as perguntas certas.
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por Lawrence Slade, via Mckinsey