A chegada da pandemia da covid-19 em 2020 trouxe um desafio global para a grande maioria das empresas. Com a adoção do trabalho totalmente remoto como uma das estratégias para a contenção da disseminação do vírus, colaboradores ao redor do mundo tiveram que se adaptar a uma dinâmica de trabalho até então pouco usual.
No Brasil não foi diferente, e as empresas se adaptaram e adotaram um modelo de trabalho “100% home office” durante parte de 2020 e 2021. Porém, com a maciça vacinação da população adulta e um cenário cada vez mais próximo da contenção da disseminação da doença, muitas empresas iniciaram a volta gradual aos escritórios. Esse movimento também aqueceu os debates sobre a real necessidade dos amplos espaços de trabalho e do convívio presencial diário. Surge então uma pergunta: estaríamos prestes a vivenciar a predominância do ambiente de trabalho virtual sobre o presencial?
Os dados não comprovam essa teoria. Vemos que a retomada do trabalho presencial é uma tendência que já vem sendo adotada no exterior, incluindo casos de empresas de tecnologia que não só voltaram aos escritórios, mas também estão buscando mais espaço, de modo a permitir uma configuração mais flexível e amigável dos ambientes corporativos. No Brasil não está sendo diferente. Mesmo em períodos mais críticos da pandemia, a demanda por metro quadrado em escritórios de alto padrão continuou a existir – na Brookfield vimos a taxa de ocupação média dos nossos edifícios comerciais aumentar de 86% para 97% nesse período. Um exemplo interessante é que alguns locatários já começaram a solicitar a ampliação da área alugada para proporcionar maior distanciamento entre as mesas e aumentar a segurança e conforto de seus colaboradores, e também oferecer mais espaços colaborativos.
Essa tendência também se reflete na busca cada vez mais intensa por escritórios em edifícios de alto padrão, com classificações que variam entre A, AA e AAA, em localizações estratégicas e com diferenciais que focam no bem-estar dos ocupantes. Estamos falando de benefícios e amenidades nas áreas comuns do edifício, tais como barbearia, espaço pet, food trucks, lavanderia e sapataria, entre outros. Nas próprias áreas privativas das empresas a tendência é a mesma, com a implantação, por exemplo, de áreas de relaxamento, restaurantes temáticos, auditórios, salas de criatividade, de jogos e até mesmo creches. São diferenciais que contribuem diretamente com a atração e retenção de talentos, tendo em vista que elevam a experiência do trabalho presencial e aumentam o desejo de retornar aos escritórios.
Antes da pandemia, a taxa média de ocupação de empresas dos setores de serviços e indústria era de uma pessoa para cada 10m². Bancos de investimentos, que possuíam ambientes mais generosos, separavam 20m² para cada funcionário. Hoje, já identificamos casos de empresas dos setores de serviços e indústria com uma pessoa para cada 25 m², mesmo com parte dos colaboradores em sistema híbrido.
Além disso, os proprietários de edifícios de alto padrão também se preocupam com a questão da sustentabilidade e os escritórios estão cada vez mais atualizados e alinhados com as políticas ESG. A maior parte dos prédios da Brookfield em operação e todos em desenvolvimento no Brasil, por exemplo, contam com certificações como LEED, do Green Building Council, que atestam benefícios como bem-estar dos ocupantes, a acessibilidade dos espaços e o compromisso ambiental dos empreendimentos. As construções que seguem esses altos padrões de qualidade sempre acabam conquistando reconhecimentos importantes. Em abril de 2022, os edifícios 17007 Nações, Brazilian Financial Center e Eldorado Business Tower, todos em São Paulo, receberam a certificação Well Health-Safety Rating, e agora são certificados com políticas, protocolos operacionais e de manutenção, planos de emergência e educação de stakeholders para endereçar um ambiente cada vez mais seguro e saudável no futuro.
Como resultado, tais edifícios apresentam uma taxa de vacância mais baixa, o que se manteve inclusive nos períodos mais críticos da pandemia, e apontam para uma tendência que já está se consolidando no exterior: a busca cada vez maior por escritórios de alta qualidade. Essa movimentação tem sido percebida pela Brookfield, que atua em mais de 30 países e em alguns dos principais centros empresariais, como Nova York, Sydney, Londres, Seul e Dubai. Em Nova York, por exemplo, 84% das atividades de locação no centro de Manhattan, desde o início da pandemia, ocorreram com ativos de classe A ou considerados premium.
Para além da questão do espaço físico, e por mais que tenhamos vivido um longo período longe do nosso ambiente de trabalho usual, é inegável que os escritórios ainda possuem relevância na relação dos colaboradores com suas empresas, sendo um dos principais agentes para uma dinâmica de trabalho que permite uma troca e compartilhamento de experiências mais rica, algo que nem sempre o trabalho remoto consegue entregar.
Mesmo que o trabalho à distância tenha sido uma solução eficaz e necessária durante o período mais rigoroso da pandemia, ele não substitui a interação humana que o trabalho presencial é capaz de proporcionar. O uso amplo de ferramentas que minimizaram a falta da socialização com colegas, por exemplo, foi necessário para recriar uma experiência parecida com o contato real, o que corrobora nossa necessidade de interações presenciais. Também vale destacar que o convívio presencial é particularmente importante para os novos talentos e jovens profissionais no desenvolvimento de suas carreiras. Em um ambiente virtual, a colaboração, as interações, a atenção pessoal e a orientação tornam-se mais difíceis, e fazer com que os novos contratados se sintam incluídos no futuro de uma empresa e abracem a cultura corporativa pode ser desafiador.
Sendo assim, já enxergamos sinais de que o “novo normal” será muito mais similar a nosso cenário pré-pandemia do que se imaginava, com os escritórios ressurgindo como um centro de gravidade para as empresas e seus colaboradores. Evidentemente, dentro de um novo contexto de busca por escritórios de alta qualidade, com a oferta de maior segurança e conforto, adaptações que acentuem os benefícios do trabalho presencial e, ao mesmo tempo, complementem o trabalho remoto. Manteremos o espaço para trabalhar de casa, mas já estamos voltando à rotina do bom e velho “cafezinho” entre colegas, momento importante para interações sociais que aproximam as pessoas e fazem com que a cultura da empresa seja construída, compartilhada e perenizada.
Roberto Perroni é Líder do Negócio Imobiliário da Brookfield no Brasil e é responsável pela aquisição e desenvolvimento de um dos maiores portfólios imobiliários do país, composto por edifícios corporativos, parques logísticos, empreendimentos multifamily e shopping centers.
Via Exame