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Ao ouvir a palavra mármore, que complemento lhe vem à cabeça? Carrara, calacata, piguês? Se sim, você precisa de uma dose de brasilidade. “Todos nós passamos pelo deslumbramento com os exemplares clássicos gregos e italianos. Mas basta abrir um pouco mais o foco para que a gente se surpreenda com as riquezas nacionais”, avalia o arquiteto Diego Revollo.

Entre jazidas esgotadas e abertas anualmente, calcula-se algo como 1.200 variedades disponíveis no país. São granitos, mármores, quartzitos, ardósias, arenitos, basaltos e limestones em incontáveis cores, padrões e possibilidades de uso, tudo bem destrinchado em catálogos, e-books e guias editados por órgãos setoriais para promover aqui dentro e mundo afora nossa exuberância geológica – com expectativa de que ela se traduza em retorno financeiro.

Entenda por que as pedras brasileiras podem ser consideradas um revestimento sustentável (Foto: Maura Mello/divulgação)

O granito Branco Nepal, ou granito Piracema, da Riello Mármores, exibe seus veios na cozinha assinada pelo escritório paulistano Todos Arquitetura, que temo arquiteto Maurício Arruda à frente da equipe de criação

 

Essa conversão, aliás, vive dias favoráveis. A desvalorização do real nos últimos anos onerou a importação de matérias-primas e impulsionou o mercado local de rochas ornamentais. “O peso do dólar voltou o olhar dos especificadores para os nossos produtos, que têm mais qualidade e opções de tons que os estrangeiros”, observa Renata Malenza, diretora da Brasigran. Atualmente, a empresa contabiliza 90% do seu faturamento vindo de exportações, enquanto 10% se concentram no circuito interno. “Os quartzitos, por exemplo, vivem um boom entre os consumidores dos Estados Unidos”, comemora.

Visão compartilhada por órgãos setoriais como a Associação Brasileira da Indústria das Rochas Ornamentais (Abirochas) e pela internacional World Natural Stone Association (Wonasa), com sede em Madri e, atualmente, um brasileiro na presidência. “Os granitos sempre ocuparam um posto de destaque em função das grandes reservas presentes em nosso território. Todavia, nos últimos dez anos, vemos uma transformação no consumo, não só aqui como em todo o globo. Os quartzitos e mármores brasileiros passaram a outro patamar”, explica o engenheiro Paulo Giafarov, CEO da empresa de consultoria DGG Stones e presidente da Wonasa.

Entenda por que as pedras brasileiras podem ser consideradas um revestimento sustentável (Foto: Romulo Fialdini/divulgação)

O mar esverdeado de Guarapari, ES, cria fundo infinito para a piscina de quartzito Avocatus, da Magban, projeto da arquiteta Vivian Coser

 

Faz sentido que as lupas se debrucem sobre as chapas de quartzito, que chegam ao valor 7 de Dureza de Mohs, escala de resistência dos minerais. Entre o talco (1) e o diamante (10), ele se posiciona em ótimo lugar, à frente dos granitos, com dureza entre 6 e 7, e dos mármores, que costumam estacionar no 3 (por conterem feldspato, as versões nacionais podem alcançar o grau 4, o que lhes confere maior valor agregado e amplia a usabilidade).

Entenda por que as pedras brasileiras podem ser consideradas um revestimento sustentável (Foto: Ruy Teixeira/divulgação)

Detalhe do lavabo que o arquiteto Diego Revollo desenhou para uma casa no interior paulista usando o granito Branco Fantasy, da Brasigran, em cacões no piso e nas paredes – já a cuba, do mesmo material, foi esculpida pela Pagliotto usando a técnica artesanal da cantaria

 

Ceará, Bahia, Minas Gerais e Paraná concentram as principais jazidas de quartzitos e mármores. No entanto, mais de 80% da produção passa pelo Espírito Santo, pois fica lá a quase totalidade das fábricas de beneficiamento. A necessidade de levar os blocos até o Sudeste para transformá-los em lâminas revela os desafios logísticos do setor.

“É comum, por exemplo, que depois de fatiado e vendido para o mercado externo, o material precise viajar em navegação de cabotagem até São Paulo, visto que o porto de Vitória não possui estrutura para navios de grande porte. Isso torna o processo mais lento e caro”, explica o economista Reinaldo Sampaio, vice-presidente executivo da Abirochas. E deixa um desnecessário rastro de carbono, uma das poucas etapas da cadeia que desafia a sustentabilidade. Isso mesmo: a extração não configura um problema, como muitos podem imaginar.

EXISTE MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL?

Antes de começar a explorar uma lavra, as mineradoras devem garantir uma série de contrapartidas ambientais para obter a autorização governamental. Proteger fontes
hídricas, manter intocadas áreas de reserva legal, reciclar o refugo e reutilizar a água empregada na extração despontam como algumas delas. “O processo é limpo, sem química, e não emite gases tóxicos. A água empregada para resfriar os equipamentos de corte é reutilizada várias vezes. O consumo de energia é baixo, enquanto outros segmentos precisam de fornos a gás de altíssima temperatura ligados constantemente”, assegura Sampaio.

A arquiteta Vivian Coser, defensora apaixonada das rochas brasileiras, membro do Green Building Council e embaixadora da Vitoria Stone Fair, complementa: “Há destino para os mais diversos tamanhos e tipos de cortes, cacos, blocos, e o calcário que resta gera matéria-prima para as indústrias cosmética e cerâmica ou vira adubo”, detalha.

“Em vez de resíduo sólido, gosto de pensar em estoque remanescente. A Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] e o Centro de Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações estão estudando como converter essa sobra em um fertilizante solúvel, rico em nutrientes, para agir como remineralizador do solo. Providencial solução para alcançar a plenitude da economia circular”, revela Sampaio, animado com mais uma política para o setor elaborada pela Abirochas.

Além disso, uma vez esgotada a jazida, a empresa se compromete a regenerá-la. “As leis de regulamentação do negócio preveem a recuperação ambiental das áreas degradadas pelo processo produtivo e exige propostas adequadas à utilização posterior em outras atividades”, explica o geólogo Elton Adam, da Michelangelo Mármores. “É possível incluir no plano de controle ambiental ações de reflorestamento ou, em cavas profundas, a criação de parques aquáticos com pesca”, completa.

A inevitável análise no ciclo de vida completa o pacote. Mesmo que haja um desgaste natural bonito de acompanhar, quem prefere manter a aparência de novo pode investir em sucessivos restauros. “Não vejo limites para o uso do material”, assevera Vivian. Talvez o custo ainda pareça uma barreira, mas até para isso há estratégias. “Gosto de desmembrar o valor do produto e o da mão de obra, pois isso enaltece o trabalho do acabamento e mostra que muitas das nossas rochas mais bonitas custam o equivalente a um porcelanato”, compara Revollo.

Entre as variedades, a matemática da diferença de preços é simples: depende da raridade e dos fatores envolvidos no beneficiamento. Uma opção macia, como o mármore, demanda menos do maquinário. Já o corte do quartzito, de superfície mais dura, requer equipamentos diamantados e ritmo lento, a fim de evitar trincas. Por fim, seguem válidos todos os clichês sobre rochas naturais: cada peça é exclusiva, suporta pesadas exigências construtivas e não pega fogo. Com tantas virtudes, fica claro que o tema, como a durabilidade das rochas ornamentais, é mesmo infinito.

Via Casa Vogue

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