Os edifícios verdes podem cumprir um papel relevante na luta contra o aquecimento global. Esse aspecto por si só já indica a importância dessas construções no contexto da agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) e na superação dos grandes desafios ambientais da atualidade. Os efeitos positivos, no entanto, não param por aí. Os benefícios chegam diretamente às pessoas no dia a dia de trabalho e no entorno de onde ficam os prédios.
Isso porque, ao reduzirem as ilhas de calor nas cidades e proporcionarem bem-estar nos ambientes internos, eles melhoram a saúde, a qualidade de vida e a produtividade dos colaboradores, conforme mostram estudos internacionais. Esses ingredientes todos podem reforçar, na ponta do processo, o lucro das empresas. Mas como isso acontece exatamente?
Antes de falar sobre isso, cabe situar melhor do que estamos tratando. De forma simplificada, um edifício verde é aquele que é ambientalmente responsável em seus diferentes estágios e se vale de uma combinação de processos e materiais que não agridem o meio ambiente (ou que pelo menos minimizam os efeitos nocivos).
Um prédio ecológico busca a eficiência energética e aposta na energia limpa, faz uso responsável da água, produz menos resíduos e utiliza materiais reciclados. O bem-estar físico e psicológico das pessoas que circulam em seus espaços também faz parte de seu escopo.
Segundo um artigo do Fórum Econômico Mundial (FEM), cobrir o telhado de um edifício com plantas pode diminuir em até 5% a necessidade de energia usada no aquecimento durante o inverno e em até 33% no verão, além de limitar a flutuação da temperatura interna durante o dia quando não se usa o ar-condicionado – tudo isso, claro, representa economia de custos. Para o conjunto da sociedade, o benefício é a dissipação das ilhas de calor nas cidades, que são mais quentes que as áreas rurais por terem muitas superfícies escuras, que absorvem os raios de sol.
Modelagens por computador indicam que as temperaturas no verão podem ser reduzidas em até 2% se 7% dos telhados urbanos forem verdes, segundo o FEM. E esse resfriamento é bom para as pessoas. “Estudos mostram que as pessoas que trabalham ou vivem em áreas com elevadas proporções de telhados verdes têm melhor saúde mental, curam-se mais rapidamente de uma doença e são mais produtivas no trabalho”, diz a entidade.
A qualidade do ar dentro das construções também melhora quando há muito verde nos espaços internos. Em ambientes que têm um terço da área coberta por plantas, por exemplo, há menos mofos e micróbios. A vegetação também aumenta os níveis de umidade, reduzindo as chances de problemas como olhos secos, coceira na garganta ou lábios rachados.
“Espaços interiores com paredes verdes, jardins verticais ou vasos de plantas podem reduzir os níveis de ruído, o que ajuda os ocupantes a se concentrarem no trabalho”, diz o FEM. Já as superfícies externas permeáveis, como plantas nos telhados e pátios, diminuem os ecos. Os locais de trabalhos verdes, completa a entidade, “melhoram a saúde e o bem-estar das pessoas, melhoram a eficiência energética e aumentam a produtividade”
Do ponto de vista de negócios, os prédios verdes entraram no radar de empresas e investidores por causa do alerta contra os riscos climáticos. A International Finance Corporation, do Banco Mundial, projeta esse tipo de construção como uma das principais oportunidades de investimento nesta década.
A JLL, organização global de serviços imobiliários e gestão de investimentos, já se atentou para isso e assinou, em 2020, um compromisso com o World Green Building Council para zerar as emissões de carbono em todos os edifícios ocupados pela companhia até 2030.
No Brasil, o setor dá sinais de avanço. Um ranking do United States Green Building (USGBG), responsável pelo sistema LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental, na tradução para o português), de classificação de edifícios verdes, coloca o país na quinta posição entre180 países com mais edifícios verdes certificados, somando um total de 1,5 mil prédios desse tipo, dos quais 641 já certificados.
Esses números são animadores, pois demonstram uma evolução na “transformação ambiental” da construção civil, um dos setores de maior impacto no meio ambiente – só para dar uma ideia, alguns estudos apontam que a cadeia produtiva desse mercado seja responsável pelo consumo de cerca de 50% de todos os recursos naturais disponíveis, renováveis e não renováveis, do planeta.
Mas a jornada é longa e está apenas no começo. Que venham mais prédios verdes. O planeta agradece, os colaboradores agradecem e os negócios também.
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Por Claiton Melo, Via Exame
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