A busca pelas vítimas do trágico desabamento de um edifício em Surfside, na Flórida, pode ter terminado, mas as investigações sobre como isso aconteceu e as lições para evitar que um incidente desses aconteça novamente estão apenas começando.
A catástrofe justifica um olhar mais atento sobre como os materiais de construção são testados quanto a resistência e durabilidade – especialmente à luz de duas preocupações urgentes: se devemos ou não retomar o trabalho presencial nos escritórios e como a construção de baixo impacto ambiental e redução da pegada de carbono afeta a segurança dos edifícios.
Esses protocolos de teste são estabelecidos pela ASTM International (sigla de American Society for Testing and Materials, ou Sociedade Americana de Testes e Materiais), e a engenheira estrutural Frances Yang, da empresa global de engenharia, arquitetura, design e consultoria Arup, disse o seguinte para a Forbes sobre o processo: “As ASTMs trabalham com muitos outros códigos e padrões de sistemas de construção para nos ajudar a gerenciar riscos na cadeia de produção”.
“A ASTM é uma organização de padrões internacionais que desenvolve e publica padrões técnicos de consenso voluntário para uma ampla gama de materiais, produtos, sistemas e serviços”, completa ela. Esses materiais podem variar de selantes a sistemas de isolamento e abordar riscos potenciais durante os processos de fabricação ou instalação, de acordo com o site da organização.
Frances ainda destacou que há vários níveis de teste durante cada estágio, desde a fase de pesquisa e desenvolvimento até o projeto real no local de trabalho, com base em diferentes restrições e requisitos. Cada projeto tem características únicas, incluindo a exposição a problemas climáticos e geológicos e o número de andares do local. E, como os materiais da construção precisam interagir entre si, eles são testados com protocolos específicos, geralmente por terceiros.
“Então, qualquer uma dessas tecnologias, para entrar em um projeto, realmente precisa ser testada para todos os usos possíveis”, disse Yang, acrescentando que “a indústria da construção é inerentemente avessa ao risco, então, está agindo para se certificar de que todos os testes e padrões de atendimento estão em vigor. Qualquer pessoa que já esteja no negócio há algum tempo sabe que você realmente precisa seguir um padrão robusto de atendimento.”
POR QUE EDIFÍCIOS CAEM
“Muitas falhas acontecem por conta de fenômenos locais”, explicou Yang, “então, se não houver cuidado suficiente pode acontecer esse tipo de desmoronamento que vimos na Flórida.” Portanto, “a outra tarefa do projeto é construir de forma que uma falha não se espalhe pelo edifício como aconteceu em Surfside.”
Uma falha localizada pode ser, por exemplo, “dois materiais diferentes que interagem mal ou uma deficiência de materiais, como camadas insuficientes de concreto. Isso pode, facilmente, começar a rachar com a intrusão da água do mar”, exemplifica Frances.
Os engenheiros estruturais têm programas de computador que lhes permitem “percorrer milhares de cenários” do que pode acontecer em uma construção, desde uma falha localizada até a potencial deterioração progressiva. Com isso, podem se proteger contra esses riscos. Na Flórida, por exemplo, as falhas podiam incluir corrosão por umidade severa e aumento do nível do mar.
RISCOS POTENCIAIS PARA EDIFÍCIOS SUSTENTÁVEIS
A necessidade de abordar e mitigar as mudanças climáticas deu origem ao desenvolvimento de dezenas de novos materiais de construção “verdes” e tecnologias para reduzir a pegada de carbono na construção de edifícios, uma das principais fontes de emissões de carbono.
Segundo especialistas do mercado, edifícios com certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design, na sigla em inglês) têm uma emissão de CO2 34% menor do que construções convencionais, além de consumirem 25% a menos de energia, 11% a menos água e desviarem 80 milhões de toneladas de resíduos de aterros sanitários, tudo isso economizando centenas de milhões de dólares no processo. Eles também dizem que os edifícios certificados pelo Leed geram aluguéis mais altos e taxas de vacância mais baixas do que os edifícios não certificados.
Estima-se que o mercado de edifícios verdes aumente para US$ 433 bilhões até 2024, com alto impacto sustentável em diversas frentes ambientais. Portanto, há enormes incentivos de mercado para que esses materiais e tecnologias sejam seguros e eficazes.
Além de testes rigorosos de novas tecnologias e materiais de construção, como concreto feito de CO2, muitos edifícios verdes também usam aço e madeira reciclados, que trazem seus próprios riscos potenciais, como contaminantes ou desgaste.
Frances, também especialista em sustentabilidade, disse que “o que realmente precisamos é de mais informações, dados e transparência sobre a origem e a proveniência dos materiais utilizados. Tudo isso para que os tipos adequados de testes possam ser executados”.
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por Forbes
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