fbpx

O que o passado pode nos ensinar sobre circularidade na construção?

Publicado em 18 . 04 . 2023

É fácil sentir que estamos andando em círculos quando se fala em um ambiente construído circular. Não é de alguma forma contraditório projetar edifícios para a vida mais longa possível, ao mesmo tempo em que tentamos garantir que eles possam ser desmontados quando se tornarem obsoletos? Ou propor que o futuro está nos sistemas modulares, quando o passado nos diz que as estruturas de grandes vãos tendem a ser mais fáceis de se adaptar e reutilizar? Ou apelar para edifícios “soltos” quando geralmente precisam de mais materiais estruturais, aumentando seu carbono incorporado?

No entanto, não é surpreendente que existam abordagens diferentes. A grande variedade de construções em nosso ambiente construído sugere que ainda não criamos o edifício perfeito. Por extensão, é improvável que haja uma fórmula mágica para garantir que os edifícios e seus componentes permaneçam em uso pelo maior tempo possível. Quando a revista The Possible, da WSP, decidiu definir “o edifício flexível definitivo”, chegamos a conclusão que tal coisa não poderia existir.

É útil olhar para isso através das lentes dos edifícios históricos. Em um nível, eles são os grandes sobreviventes e podem oferecer pistas sobre por que alguns edifícios perduram enquanto outros perecem. Grandes estruturas sem colunas, como armazéns vitorianos, provaram ser quase infinitamente adaptáveis. Da mesma forma, edifícios feitos de materiais robustos e fáceis de manter, como pedra e concreto, têm uma vantagem inerente. A personalidade é uma qualidade arquitetônica mais nebulosa, mas talvez a mais importante. “Se as pessoas não acharem um edifício útil, confortável e agradável, não farão o esforço de adaptá-lo e mantê-lo”, aponta o especialista em patrimônio da WSP, Nick Corbett.

Os avanços na análise e modelagem estão trazendo uma abordagem mais científica para o trabalho de preservação do patrimônio e também abrindo novas possibilidades. Na principal reabilitação do Center Block, no parlamento canadense em Ottawa, por exemplo, a pesquisa da WSP mostrou que as paredes de alvenaria podem ser isoladas sem aumentar o risco de condensação, mofo ou danos por congelamento. “Esta não é uma conclusão abrangente [mas] mostra que, baseando as decisões na análise e não no instinto, podemos encontrar soluções melhores, mais sustentáveis e duradouras”, diz Martin Sing, líder da equipe de sustentabilidade e energia. Simplificando, quanto mais somos capazes de analisar, menos precisamos construir.

As tecnologias emergentes também têm implicações na forma como projetamos longevidade em novos edifícios. Os sistemas modulares já foram descartados como inflexíveis, mas projetos como o InnoCell, uma torre residencial e de coworking de 17 andares no Hong Kong Science Park, mostram como as ferramentas digitais podem permitir que os módulos plug-in sejam trocados, reconfigurados ou reutilizados em um localização diferente. “Cada módulo de aço é simplesmente aparafusado a seus vizinhos”, explica Richard Chan-Hang Lee, diretor-gerente de estruturas de construção da WSP na região da China. “Se um dia módulos completamente diferentes fossem necessários, os existentes poderiam ser removidos ao redor do núcleo, camada por camada.”

Isso reconhece outra lição fundamental do passado: às vezes os edifícios deixam de desempenhar uma função útil. Projetar um edifício sem considerar como poderia ser desmontado é ignorar o fato de que o futuro raramente se desenrola da maneira que esperamos. Isso se tornou um problema particularmente urgente no setor de madeira engenheirada em rápida expansão. Algumas estimativas colocam o volume de produtos de madeira reciclada em apenas 30%, com a maioria das estruturas de madeira queimadas ou enviadas para aterros no final de sua vida útil, liberando o carbono que sequestraram de volta na atmosfera. “A forma como a maioria dos edifícios de madeira é projetada atualmente, sem pensar em como os componentes podem ser recuperados e reutilizados, torna isso uma certeza”, diz Thomas Musson, engenheiro estrutural e consultor da WSP na Holanda. A solução, acrescenta ele, combinará know-how tradicional e premeditação pragmática com gêmeos digitais, códigos QR e bancos de dados em nuvem.

Em suma, a circularidade exige que aprendamos com o passado, usemos todas as ferramentas disponíveis no presente e tentemos prever um futuro incerto. Nisso, pelo menos, o ambiente construído nunca muda.

 

_
por Nick Jones, via WorldGBC

O que procura?

Inscreva-se para receber as novidades do GBC Brasil Fique por dentro das novidades do movimento de construções sustentáveis.
Inscreva-se para receber as novidades do GBC Brasil. Fique por dentro das novidades do movimento de construções sustentáveis.