No presente não é mais cabível a discussão unidimensional da estética da forma na arquitetura, que perdurou como questão central durante várias décadas, para uma nova visão pluridimensional holística e sistêmica onde a arquitetura não mais se limita ao domínio das questões do espaço e da estética da forma.
Perante as necessidades impostas pela realidade, vê-se obrigada a ampliar seu enfoque sobre a cultura material e das formas de produção material para atender as novas demandas e necessidades individuais e coletivas.
Essa visão pluridimensional holística “se expressa na doutrina segundo a qual o indivíduo e os fenômenos da realidade devem ser estudados como um todo e não a soma dos seus diversos constituintes”. (1)
“A abordagem sistêmica se dá com a inversão da relação entre as partes e o todo. No pensamento sistêmico as propriedades das partes só podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior. No pensamento analítico cartesiano, isola-se para entender, no sistêmico coloca-se junto para entender”. (1)(2) O Ponto de mutação – Fritjof Capra. 1983
Ambas as conceituações decorrentes do aumento da complexidade do conhecimento e do seu trato, devem estar presentes desde a formação e aprofundadas no decorrer das atividades culturais e profissionais do arquiteto e vem exigindo uma crescente contribuição interdisciplinar em cada projeto entre os cabíveis participantes das várias áreas científicas – humanas, biológicas, ambientais, exatas e econômicas, em equilíbrio com o conhecimento sensível.
Como conseqüência e talvez a mais próxima, seja a “re-união” de arquitetos e engenheiros na formação e num trabalho mais interativo, diante da constatação irrefutável de que essas áreas tratam de um mesmo objeto.
Uma nova visão de mundo que decorre da nossa consciência e sensibilidade estabelece necessários vínculos com a sociologia, a antropologia e as demais ciências que incorporem homem, uso, lugar, tempo, medida, matéria, técnica com riqueza e qualidade fundamentais na inovação e na evolução tecnológica, e que propicie condições para que o arquiteto possa exercer sua profissão de uma forma plena.
Infelizmente a busca de um mundo mais sustentável encontra no presente sérios obstáculos a serem transpostos.
Os desequilíbrios culturais, sócio-econômicos e ambientais no Brasil e, porque não, no mundo todo compromete esse inicio de século período de atitudes e ações conflitantes, desarticuladas e superadas, quando deveríamos estar num século do intelecto conforme um dos últimos textos de Lucio Costa no qual acrescentei o termo criação.
As contradições seguidas do capitalismo mundial na suas exigências de mercado e de consumo ditam a desordem presente em praticamente em todas as nações, em especial as emergentes e as de 3ª e 4º mundos. As cidades e em especial os grandes aglomerados refletem um inchamento com toda a sorte de conflitos de um contexto cada vez mais insustentável pela ausência de programas e ações culturais, políticas e econômicas.
No Brasil nosso capitalismo dependente exarceba-se com intensidade das mais variadas formas: a ausência de previsão e planejamento físico e econômico; a incompetência quase generalizada da classe política e da “elite” econômica, principalmente preocupada com o lucro fácil e rápido e no conluio criminoso entre ambas; a desordem das cidades, a ineficiência na mobilidade urbana, a ausência de políticas públicas de educação e saúde; na ocupação retalhada do território que reflete um tecido esgarçado e destruidor do meio ambiente; o péssimo aproveitamento da condição exuberante do nosso clima relevo e solo e a depredação das paisagens no engano da ocupação dos vales com sistema viário e os rios que restaram em esgotos a céu aberto.
A insegurança, o descuido na formação acadêmica, o esquecimento da velhice, tirar- nos a condição de cidadãos para nos reduzir a meros consumidores. As cidades vão abandonando a sua condição fundamental de lugar de vida, nosso ar se poluiu, nossos lagos são consumidos e nossas reservas velhas são destruídas.
O mais breve possível devemos encontrar caminhos que nos levem a uma visão pluridimensional e um viver com uma postura holística e sistêmica do conhecimento, com desenvolvimentos cientifico e artístico inovadores que acelerem o tempo perdido e nos coloquem num patamar digno do ser humano.
As cidades devem passar a ser entendidas com uma visão metabólica que se renove ciclicamente e recupere a condição de organismo vivo que se realimenta continua e evolutivamente. Só assim alcançaremos um mundo pleno, que tenha o homem como a sua principal referência. Essa é a conceituação de sustentabilidade e que devemos para que aconteça e que alimente um Projeto de Nação que quebre paradigmas e constitua contexto sócio-econômico e cultural.
Leia também a Parte 1/3 : “A evolução da construção sustentável – Principais referências” clicando aqui
Leia também a Parte 2/3 : “Experiências ecoeficientes e bioclimáticas de Zanettini” clicando aqui