O retrofit do edifício da MAPFRE Seguros em Ribeirão Preto/SP cumpriu com êxito o objetivo de adequar as operações da empresa às melhores práticas de sustentabilidade e eficiência energética, buscando a satisfação e o bem-estar dos usuários e reduzindo o impacto ambiental na natureza. Sob consultoria da Ares Eficiência Energética e Sustentabilidade, o edifício conquistou a Certificação LEED Platinum, nível máximo da categoria, proporcionando à MAPFRE o mérito de primeira seguradora do Brasil a conquistar esse selo em imóveis comerciais. Além disso, o empreendimento se destaca por ser o primeiro certificado LEED em Ribeirão Preto, impulsionando o crescimento do movimento de green building nas cidades do interior do país.
Tal conquista só foi possível devido ao atendimento dos requisitos necessários durante todo o ciclo de vida da edificação, desde a concepção de projeto, passando pela escolha consciente de fornecedores e materiais, até a condução da obra, incluindo o descarte de resíduos e demais tratativas relacionadas. Cabe destacar que o LEED valoriza edificações localizadas em centros urbanos como no caso da MAPFRE. Isso conferiu pontos significativos ao empreendimento, unindo sua implantação em local de alta prioridade pelo zoneamento municipal à grande densidade e usos diversos no entorno, como também ao amplo acesso a transporte de qualidade.
Aliada a infraestrutura do entorno, a MAPFRE teve preocupação também em promover amenidades que beneficiassem seus usuários dentro do edifício, através da implantação de vagas dedicadas para veículos compartilhados (carpool), veículos de baixa emissão e elétricos, com suporte de estações de carregamento em alta velocidade, contribuindo assim com o movimento global de eletrificação veicular.
Ainda em fase de concepção, o empreendimento contou com um processo de projeto integrado através de uma equipe interdisciplinar, envolvendo projetistas, colaboradores, investidores e fornecedores. Os esforços se uniram em prol do desenvolvimento e implementação de um projeto arquitetônico que buscasse grande aproveitamento da iluminação natural, ao mesmo tempo em que os vidros duplos de controle solar especificados evitassem insolação direta excessiva. Além disso, houve forte preocupação com o isolamento da cobertura, solucionado por uma composição que permitiu grande redução da transmitância térmica (telha metálica + 5cm de EPS + telha metálica + câmara de ar + forro mineral – transmitância total de 0,73 W/m²K). Essas iniciativas, em paralelo com a adoção de um sistema de ar-condicionado VRF de alta eficiência e uma iluminação artificial em LED com alto IRC, colaboraram para uma economia de energia da ordem de 41% na edificação.
Nas áreas externas foi utilizado piso intertravado vazado, visando contribuir para a redução de ilhas de calor e auxiliar na gestão das águas pluviais, evitando o escoamento superficial através da infiltração da água no próprio terreno. Em relação ao consumo de água, a MAPFRE chegou a 61% de economia de água potável no interior do edifício, pois, além de dispositivos economizadores, as águas pluviais tratadas foram destinadas para descargas sanitárias.
Tanto os sistemas de energia, quanto de água (conjuntos mecânicos, elétricos e hidráulicos), tiveram sua medição individualizada e foram monitorados através de comissionamento avançado, além do desenvolvimento de infraestrutura para futuro programa de resposta à demanda.
Além dos esforços de eficientização dos sistemas, a MAPFRE aderiu a um projeto denominado Amigos da Floresta, da The Green Initiative, através de suporte financeiro para comprometimento do plantio de 1200 árvores nativas do bioma Mata Atlântica, realizando sua manutenção pelo período de 2 anos. Esse é o mesmo bioma natural da localização do projeto em Ribeirão Preto e a parceria visa auxiliar a recuperação das matas ciliares e rios locais. Outros pontos que merecem destaque são a aquisição de REC’s (certificados de energia verde), a obtenção de dois créditos pilotos que incentivam a iluminação natural eficiente e vistas externas de qualidade em espaços de ocupação transitória (além dos pontos já obtidos para os espaços regularmente ocupados) e a pontuação máxima da opção no crédito de Análise de Ciclo de Vida. Essa pontuação alta se deu por se tratar de um retrofit de edifício existente e pela reutilização dos seus elementos estruturais, incluindo a estrutura metálica do telhado, reduzindo em 78,5% o potencial de aquecimento global, em 61,2% o esgotamento da camada de ozônio estratosférica, em 74,3% a acidificação da terra e das fontes de água, em 65,4% a eutrofização, em 75% a formação do ozônio troposférico e em 59,4% o esgotamento dos recursos energéticos não renováveis.
Durante a obra, foi implementado um Plano de Gerenciamento de Resíduos visando seu desvio de aterros sanitários. Houve reaproveitamento de mais de 75% do total do material de construção e demolição, além da coleta seletiva de materiais recicláveis e a destinação segura de pilhas e baterias. Foram instalados materiais com Declaração Ambiental de Produto, materiais reciclados e madeira oriunda de manejo florestal com selo FSC. Por ser um retrofit de imóvel existente (construído em um terreno visualmente plano), não houve atividades de movimentação de solo, escavações ou fundações. No entanto, foi desenvolvido um plano de Controle de Erosão e Sedimentação visando evitar descargas de resíduos proibidas, objetivando a minimização da poeira e a proteção, contra chuvas fortes, de materiais armazenados por meio de lona e pedras. Além disso, foram adotadas medidas para melhoria da qualidade do ar interno, através da utilização de capachos nas entradas permanentes da agência para controle de poluentes e captura de sujeira, proibição do fumo interna e externamente e instalação de sensores para monitoramento de CO2 nos ambientes.
Deste modo, o projeto consagra-se como um reflexo direto das estratégias abordadas no Referencial LEED BD+C NC, atendendo a todas as exigências que foram aplicáveis sem medir esforços para que o resultado do trabalho conjunto fosse benéfico aos proprietários, usuários da edificação e todo o entorno direto e indireto. Para o futuro, além do programa fundamental de operação e manutenção, a edificação, como pioneira, se torna vitrine e um legado para a cidade demonstrando que excelentes resultados podem ser obtidos quando há interesse real em ser sustentável.
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por Paula Rocha Leite, Ares Eficiência Energética e Sustentabilidade