Olhos lacrimejados, sensação de cansaço, dor de cabeça, absenteísmo e desânimo são apenas alguns dos efeitos que podem ser ocasionados pelas características dos projetos e materiais escolhidos para constituir ambientes de escritório.
Nesse sentido, um número cada vez maior de empresas tem criado seus próprios requisitos para garantir um padrão de saúde, bem-estar e qualidade dos seus escritórios, a fim de aumentar a retenção, o conforto e a produtividade de seus colaboradores.
Samsung, Google, Apple, Facebook, Loreal e Goldman Sachs são apenas alguns dos exemplos de empresas que criaram diretrizes para garantir espaços inovadores, onde os colaboradores estão em primeiro lugar. Dentre os conceitos aplicados, destacam-se a biofilia, a restrição de componentes químicos e a qualidade lumínica, térmica, acústica e do ar.
Me fale quem tu és que eu direi se te especifico
Alinhado aos conceitos de transparência e da certificação Cradle to Cradle adotada como referência para a análise de toxicidade de materiais pelo LEED v4, a Google desenvolveu uma metodologia própria para a análise de todos os produtos que são utilizados em seus escritórios. O intuito primeiro do projeto é conhecer os materiais e, portanto, seu potencial de impacto positivo ou negativo na qualidade dos ambientes internos.
Para realizar tal trabalho, a maior companhia de tecnologia do mundo criou uma ferramenta de comunicação que trabalha de forma confidencial, onde os fabricantes podem inserir estudos, declarações, laudos laboratoriais e a composição de seus produtos para fazer parte, assim, de um banco de dados internacional de fornecedores da Google. Nenhuma informação fornecida é publicada e o fabricante escolhe o nível de profundidade dos dados que irá disponibilizar.
Esta iniciativa está balizada na preocupação em garantir um ambiente salubre e livre de substâncias químicas prejudiciais à saúde humana e do meio ambiente, bem como em criar um mecanismo fácil e padronizado de receber dos fabricantes as características técnicas e químicas dos produtos.
Pode-se dizer que este programa é o estado da arte das empresas privadas na busca pelo conhecimento sobre os materiais utilizados em seus escritórios.
Trabalhando na praça do escritório
Trazer para o ambiente de trabalho a sensação de espaço externo, intimamente integrado à natureza, ao ar puro e à iluminação natural é o que hoje algumas grandes empresas têm adotado em seus escritórios a partir da aplicação da biofilia.
O Segundo Campus da Apple, projetado pela UK, é um dos maiores exemplos desse conceito de design adotado por empresas que já internalizaram a importância a biofilia. Os 176 acres de terreno vão abrigar pouco mais que 260 mil m² de escritório, um edifício de pesquisa e desenvolvimento, auditório, laboratórios, academia e café, além de uma usina de energia de baixo carbono para gerar eletricidade para o próprio campus. Mais de 6.000 árvores serão plantadas nas áreas externas e internas do projeto.
As prioridades adotadas para projeto, segundo a Apple e UK, foram:
* Maximizar de áreas verdes densamente vegetadas.
* Propiciar uma extensão do espaço aberto e verde para proveito dos funcionários da Apple.
* Criar um ambiente de trabalho inovador e inspirador.
* Exceder as metas de sustentabilidade econômica, social e ambiental através do projeto e desenvolvimento integrado.
Os benefícios de projetos bem executados não param por aí
Os principais motivos que subsidiam tais iniciativas privadas foram compilados em 2014, pelo World Green Building Council, por meio do relatório sobre ‘Saúde, bem-estar e produtividade em escritórios’. De acordo com este trabalho, os resultados de projetos bem desenvolvidos e da seleção de materiais mais salubres podem resultar nos seguintes benefícios:
Qualidade do ar interno: a baixa concentração de CO2 e poluentes no ar, em resposta ao aumento das taxas de renovação do sistema de ar condicionado, podem aumentar a produtividade em taxas que variam de 3 a 18% e reduzir entre 0,8 e 1,3% o custo com saúde e absenteísmo, segundo estudo desenvolvido pela Carnegie Mellon (2014).
Conforto Térmico: ambientes confortáveis termicamente e com controlabilidade impactam diretamente na satisfação dos ocupantes. Segundo o estudo publicado pela revista Indoor Air (2011), a performance em ambientes de trabalho frios pode decrescer até 4%, enquanto que em ambientes quentes este valor pode alcançar até 6%.
Iluminação natural e vistas: diversos estudos têm estimado os ganhos obtidos da proximidade dos postos de trabalho de janelas, particularmente onde a vista oferece uma conexão com a natureza. Conforme aponta o artigo desenvolvido por Elzeyadi (2011), foi identificada uma variação de até -6,5% nas licenças médicas dos funcionários da administração do Campus da Universidade do Noroeste (US), conforme o maior ou melhor acesso às vistas externas e à iluminação natural.
Ruído e acústica: ser produtivo no escritório é praticamente impossível quando o ruído fornece uma distração indesejada. Essa afirmativa é subsidiada pelo estudo desenvolvido em 2005 por Wright, no qual 99% das pessoas entrevistadas informaram ter sua concentração afetada por conversas de fundo e ao telefone. A má acústica dos ambientes de escritório é uma das principais causas de insatisfação entre os ocupantes.
Layout: a forma como o interior de um escritório está configurada, incluindo sua densidade e a configuração dos espaços de trabalho, descompressão e lazer, afetam significativamente a concentração, colaboração, confidencialidade e criatividade dos ocupantes. Uma pesquisa desenvolvida pelo Bank of America em um de seus call centers identificou que a configuração do escritório com ambientes de interação e lazer aumentou em 18% a coesão dos colaboradores, minimizou em 6% o stress pessoal e reduziu drasticamente a rotatividade dos funcionários de 40% para 12%.
Biofilia: fazer do ambiente interno uma continuidade do ambiente externo, com elementos naturais, orgânicos, ou até mesmo urbanos, porém atóxicos, propiciam maior conforto e produtividade. Um estudo recente desenvolvido em 2015 pela Interface, denominado Global Impact of Biophilic Design in the Workplace, analisou 7.600 postos de trabalhos em 16 países. O resultado do estudo identificou que a biofilia em ambientes de escritório aumenta em cerca de 6% a produtividade, 15% a sensação de bem-estar dos ocupantes e 15% a criatividade.
Baseado nesses benefícios, é cada vez mais comum que empresas de diferentes setores adotem premissas de sustentabilidade para nortear novos projetos ou a reforma de antigos. As certificações LEED e Well têm se fortalecido como ferramenta não só balizadora como, especialmente, orientativa para tais iniciativas, propiciando resultados palpáveis de saúde, bem-estar e produtividade dos ocupantes.
Texto escrito por Adriana Hansen – Coordenadora de Projetos Sustentáveis, LEED AP BD+C, LEED AP ID+C e Cradle to Cradle Assessor Professional, da empresa Membro do GBC Brasil: CTE