Desde quando comecei a ajudar a trazer e consolidar o Green Building Council Brasil (GBC Brasil) e a Certificação LEED, aqui na nossa região, a pergunta que sempre tive que responder, em palestras e entrevista era: Fica mais caro construir sustentavelmente? A resposta tradicional era: Construir para obter a Certificação LEED básica, não, mas para se obter a Certificação Prata, Ouro ou Platina, sim… um pouco mais caro, mas o retorno financeiro é certo!
Após a leitura do estudo “Cost Green: A Comprehensive Cost Database and Budgeting Methodology” elaborado por Lisa F. Matthiessen, Peter Morris e Davis Langdon, onde, primeiramente, os autores utilizaram o projeto feito para a Bren School da UCSB (University of Califórnia – Santa Barbara) para simularem orçamentos do prédio, locado em diferentes cidades (para analisarem os efeitos da localização nos custos teóricos) e atendendo a exigências de diversos níveis de certificação do LEED. Os valores dos sobrecustos são apresentados abaixo, sempre considerando como base o orçamento do prédio segundo padrões normais, sem se preocupar com exigências da certificação LEED.
Os orçamentos mostram que existe sobrecusto quando se procura a certificação, sendo proporcionalmente maior para atender os níveis mais elevados da certificação LEED. As simulações confirmaram, que na teoria, a resposta tradicional, que eu dava quando perguntado.
Previsão Orçamentária da Construções Sustentáveis
Para completar o estudo, os autores analisaram os custos finais de 221 empreendimentos, sendo 83 certificados e 138 que não buscavam a certificação. O levantamento demonstra que os custo específicos (US$/m²) obtidos não demostram, estatisticamente, que existam os sobrecustos esperados, pode-se observar uma tendência de custos inferiores, incluindo-se os que obtiveram Certificação LEED nível Platina.
Custos Finais das Obras Estudadas
Algumas explicações para este aparente paradoxo seriam as exigências e recomendações paralelas que o LEED faz para quem quer projetar e construir com SUSTENTABILIDADE, quanto a EXCELÊNCIA (fazer certo), EFICIÊNCIA (da maneira certa) e ÉTICA (pelos motivos certos) na gestão, e processos/disciplina na condução do empreendimento.
Durante a minha experiência profissional (mais de 30 anos) na área de engenharia (tecnologia, estudos, projeto, licitação, construção e montagem), lidando com empreendimentos industriais (dezenas de unidades nas áreas de petroquímica, madeira, tecnologia, metalúrgica, etc.), imobiliários corporativos, varejo e residenciais (mais de seis mil processos e alguns milhões de m²), aprendi que, para evitarmos sobrecustos, atrasos, falta de qualidade, temos que zelar pelo planejamento e organização do processo, pela boa comunicação e participação ativa dos envolvidos, disciplina nas tomadas de decisão (principalmente nas fases iniciais) e execução das tarefas, ou seja pela EXCELÊNCIA, EFICIÊNCIA e ÉTICA!
Trabalhando com empresas que tinham excelentes áreas de engenharia como a ITAUSA, Rhodia, Petrobras, Dow Chemical, Luger, Rhône-Poulenc, Mitsubishi, Pullman Kellogg, Fluor etc. e com grandes profissionais, como Paul Kaiser e João José Augusto Mendes, aprendi a importância de palavras como Reunião de Partida (Kick-Off Meeting), Etapas de um Empreendimento, Reunião de Encerramento de Etapa (Freeze Date), Análise Hazop etc. Palavras que evitam grandes pesadelos de engenheiros e arquitetos. Palavras que ajudam a coordenar as tarefas complexas, multifacetadas de um empreendimento, tudo com EXCELÊNCIA, EFICIÊNCIA e ÉTICA.
Complexidade dos Empreendimentos Imobiliários
Estes conceitos e transformações CULTURAIS, tive a oportunidade de implementar, com sucesso, nas reorganizações das áreas de engenharia em grades empresas. Uma das recomendações que considero extremamente importante, se refere a alocação dos melhores e mais experientes profissionais nas fases iniciais de um empreendimento, quando temos a oportunidade de implantar as melhores soluções com os menores custos e evitando revisões e alterações futuras devido a erros na viabilidade e conceituação do empreendimento, evitando sobrecustos, atrasos nos prazos e retrabalhos desnecessários.
Vantagem de se Utilizar Colaboradores Seniores desde o Início dos Empreendimentos
Custo de Implementação de Melhores Práticas em Função das Etapas do Empreendimento.
Outro fator que ajuda a explicar, é o fato de que os orçamentos são elaborados usando-se composições padrões e preços médio do mercado. A EFICIÊNCIA de um bom processo de licitação deve reduzir os custos da obra e garantir o escopo e a EXCELÊNCIA da obra e logística. Se os trabalhos elaborados nas etapas anteriores à Etapa de Licitação tiverem sido feitos bem-feitos, é de se esperar que tenhamos redução de valores em comparação com o orçamento executivo de referência.
Excelência, Eficiência e Ética na Licitação
As exigências e recomendações do LEED, quanto ao planejamento, organização do canteiro e execução dos serviços na fase de obra, baseadas nas orientações do Lean Construction, trazem benefícios quanto a custo, prazo e qualidade da obra. O desenvolvimento de novas tecnologia no setor da construção civil (até que enfim…), como a construção modular vem para ajudar.
Benefícios da Construção Planejada
A Certificação LEED traz recomendações que nos leva a fazer certo na primeira vez (EXCELÊNCIA), da maneira certa (EFICIÊNCIA), pelos motivos certos (ÉTICA), ou seja nos leva a trabalhar com alto desempenho… que é o CORAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE.
Hoje, quando me perguntam se a construção sustentável é mais cara? Respondo, rapidamente, NÃO! Pois fazer certo, da maneira certa, pelos motivos certos, levam ao alto desempenho e, portanto, redução de custo, prazo e aumento da qualidade.
“SEMPRE DÁ CERTO FAZER CERTO!”
Eng. Naval pela Escola Politécnica – USP, pós-graduado/especialização/CEAG em finanças e engenharia pela FGV/EPUSP.
Atuou como Presidente, Diretor e Executivo em grandes empresas nacionais e internacionais (METRÔ, ABN AMRO Banco Real, Banco Itaú, ITAUSA – ITAUPLAN, Rhodia) e como consultor no Governo do Estado de São Paulo (Assuntos Estratégicos).
Ex. CEO do GBC (Green Building Council Brasil), trabalhou 10 anos desenvolvendo projetos de eficiência energética (Pioneiro em Cogeração), fontes alternativa de energia, uso racional de água e tratamento de resíduos. Pioneiro em Certificação LEED e ISO 14.001 para edifícios. Professor e Consultor nas áreas de Sustentabilidade (ESG), Liderança, Equipes de Alto Desempenho e Planejamento Estratégico.
Autor dos livros: “Sustentabilidade Corporativa, Cultura da Sustentabilidade e Alto Desempenho , Liderança – Sustentabilidade e Alto Desempenho, Equipe – Sustentabilidade e Alto Desempenho e Pessoas Certas