por Felipe Faria – Diretor Executivo Green Building Council Brasil
Aqueles que possuem maior esclarecimento sobre o tema, entendem que o chamado tripé da sustentabilidade engloba aspectos sociais, ambientais e econômicos. Todavia, muitos de nós conectamos o assunto sustentabilidade somente com proteção ambiental e responsabilidade social. Deixamos de lado o aspecto econômico quando discutimos ações que beneficiam o social e ambiental, ora por preconceito ou resistência desnecessária, entendendo que o desenvolvimento econômico é o motivo da degradação ambiental e social, ora por desconhecimento ou falta de experiência em criar um modelo de negócio que alavanque a atividade “sustentável”.
Neste sentido, as principais barreiras enfrentadas por quaisquer profissionais e empresas envolvidos em movimentos de transformação de mercado com foco em sustentabilidade são: falta de informação; falta de comunicação entre os diversos “stakeholders” envolvidos no projeto de modo a considerar a pluralidade de conhecimento e experiência na fase de planejamento; ausência de incentivo ou política pública integrada que possa nortear tais atividades; e visão imediatista.
O imediatismo está totalmente desconectado com a visão holística que regerá as atividades econômicas no novo tratado que insurge entre homem e Planeta. Ações imediatistas assumem importância na remediação de problemas existentes sem solucionar suas causas.
Não digo que resultados positivos somente serão percebidos no longo prazo. A visão de longo prazo permite auferir resultados imediatos, porém a perpetuação deste negócio lucrativo não será possível sem maximizar aspectos culturais e de responsabilidade socioambiental. Mesmo por quê, atividades que não são pautadas na visão sistêmica da sustentabilidade estarão a cada dia, enfrentando novos riscos de investimentos, jurídicos, ambientais e sociais.
Assim, no mundo corporativo muitos modelos de negócios surgem dentro de uma perspectiva de longo prazo. Normalmente estes modelos de negócios são desenvolvidos e dirigidos pelos principais executivos, empreendedores ou talentos das corporações.
O movimento da construção sustentável no Brasil cresce a passos largos. Em matéria de certificação internacional de “green buildings”, o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), presente em 150 países, tem o Brasil como o 4º no ranking mundial com o maior número de projetos registrados e certificados. São mais de 1.000 edificações ou 25 milhões de m² registrados e 300 edificações certificadas. Tratam-se de edificações que comprovadamente atendem questões de eficiência no uso de energia, água e materiais; qualidade ambiental interna do ar; uso de materiais de baixo impacto; melhorias em termos de localização da edificação e o entorno com foco em qualidade de vida e redução de emissões.
O sucesso deste movimento foi acompanhado por um forte processo de capacitação profissional, disseminação da informação, novas tecnologias e cases de sucesso, bem como a provocação feita pela certificação LEED em termos de forçar a comunicação entre os diversos “stakeholders” responsáveis pela concepção, construção e operação de edificações.
Entre as diversas ações que justificam o crescimento da construção sustentável no país, vale destacar modelos de negócios pautados no planejamento de médio a longo prazo. Estes modelos de negócios, onde a visão sistémica é princípio basilar, logo elimina a falsa barreira do “sustentável custa mais caro”. Na construção sustentável esta análise parte do levantamento do custo da edificação considerando um ciclo de vida razoável de 50 anos. Assim, temos que apenas 15% do custo durante o ciclo de vida corresponde a construção, sendo que 85% do custo está relacionado a operação da edificação.
Ainda há o falso entendimento que a construção sustentável onera em 30% o custo de construção, enquanto que a nossa experiência com 300 edificações certificadas no Brasil sugere um acréscimo entre 0% a 6%. E o que determina a variação deste acréscimo de custo de construção? É a capacidade e experiência das equipes envolvidas no projeto e construção, bem como o momento em que iniciam a discutir a maximização de ações e estratégias voltadas a angariar resultados considerando uma visão holística do projeto. Ou seja, trata-se de um modelo de negócio diferenciado que exige planejamento baseado na visão holística, onde experiência e interdisciplinaridade de equipe são pontos chaves.
Dito isto, temos que qualquer investimento adicional em fase de construção relacionado a eficiência, redução do uso de recursos naturais ou mitigação de impactos sócio ambientais possui um “pay back” de curto a médio prazo, certo que estas edificações reduzem uma média de 25% a 30% de energia e 40% do consumo de água durante sua operação. Adicionalmente, o que se vê nestas edificações são benefícios econômicos imediatos, frente melhores valores a serem percebidos na venda e aluguel de lajes, aumento da velocidade de ocupação e aumento da retenção comparado às edificações convencionais.
Há modelos de negócios que, visando garantir esta vantagem econômica na fase da operação de edificações, atrela construção e operação como responsabilidade do mesmo “stakeholder”. Como exemplo, cito a modalidade de negócio imobiliário chamado “build-to-suit”, onde o investidor viabiliza o negócio segundo o interesse do futuro usuário já conhecido e que garante contratualmente estar utilizando a edificação por um prazo pré-estabelecido, sob uma remuneração acordada. Neste negócio o responsável pela construção também se responsabiliza pela operação desta edificação, assim sendo, tendo ele conhecimento que o principal custo da edificação será sua operação e não sua construção, dentro do seu prazo de contrato, seguramente a conceituação de projeto, construção e operação desta edificação se valerá dos preceitos diversos da construção sustentável.
Esta preocupação e ênfase com a edificação pós construção também passa a ser refletida em projetos de urbanismo integrado. Edificações de uso misto de modo a diminuir a necessidade de deslocamento dos ocupantes (projeto que envolve lajes comerciais, residenciais e serviços diversos), maximização de espaços abertos e de convívio público aumentando o senso de segurança e comunidade, infraestrutura pública eficiente, priorização ao pedestre, estímulo ao transporte de baixa emissão, edificações eficientes e restauração do habitat natural são conceitos que integram ferramentas de certificação como o LEED ND (Neighborhood & Development). Há casos onde o empreendedor destes projetos, vislumbra concentrar seu lucro na administração das edificações voltadas ao varejo, serviço e entretenimento destas edificações de uso misto, atuando de forma semelhante a um administrador de Shopping Center. Assim sendo, necessário se faz investir nos conceitos de planejamento acima mencionado mantendo as ruas “vivas”, mantendo um ambiente qualitativo no sentido de maximizar a qualidade de vida, bem-estar e prosperidade dos ocupantes, dentro de uma visão de longo prazo não se limitando a construção e entrega do empreendimento.
Os profissionais que buscarem desenvolver habilidades e nutrir conhecimento interdisciplinar, de modo a conseguir identificar todas as oportunidades ou impactos relacionados a sua atividade meio, estarão passos à frente dos demais e bem encaminhados para um próspero futuro profissional. Não à toa, as principais empresas de recrutamento do mundo, determinam como pré-requisito a identificação de executivos para assumir cargo de alto escalão de grandes corporações que tenham capacidade de planejar a longo prazo, identificando todas as interfaces e oportunidades dos seus negócios, transformando resíduos em receita; ações sociais de engajamento com a comunidade em capacitação de mão de obra, melhorias no entorno podendo beneficiar a logística e valorização de marca; tecnologias que alinham eficiência e mitigação de impactos com ganhos econômicos; etc…
Corroborando ao sucesso dos desafios assumidos por estes profissionais, temos a crescente discussão dos conceitos de análise de ciclo de vida e declaração ambiental de produtos; contabilidade ambiental; índices de sustentabilidade das principais bolsas de valores; fundos de investimentos específicos para “start up” que envolvem serviços ou soluções para edificações ou cidades sustentáveis, entre outros.
Para os profissionais da construção civil que ingressam no mercado de trabalho, com segurança afirmo que o movimento de “green building”, além de criar novos empregos e atividades, reúne os melhores projetos e empresas do mercado. Neste universo de edificações certificados ou registrados LEED, que segundo estudo da E&Y representa em torno de 10% do PIB da construção civil, temos um pouco mais de 250 profissionais acreditados LEED. E o mercado não está mais restrito a edificações comerciais de alto padrão. São muitas plantas industriais, centros de distribuição e data centers. Mas também temos escolas, hospitais, hotéis, prédios públicos, arenas esportivas, bibliotecas, agências bancárias, restaurantes, laboratórios, museus e outras edificações.
Cresce a certificação de lojas de varejo, edificações existentes, projeto de planejamento urbano integrado e inicia-se uma maior penetração no maior volume construtivo do país, o setor residencial. Há um universo de oportunidades disponíveis.